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Modernidade Liquida – Capítulo 3 – Tempo/Espaço – Resumo

Modernidade Liquida – CAPÍTULO 2 – INDIVIDUALIDADE – Resumo

Modernidade Liquida – Capítulo 3 – Tempo/Espaço – Resumo

Nos tempos que correm, as Comunidades não são mais vistas e classificadas de acordo com o seu conteúdo, mas sim pela capacidade de defesa e controle dos seus territórios e defesa contra os riscos e perigos externos. Contudo, esta convivência exige de cada integrante comunitário a capacidade de estar em constante comunhão com os outros de modo a garantir o bem comum.

Actualmente, vários espaços sociais desempenham o papel referido acima, contudo não efectivamente. Isto acontece porque estes pontos de intercessão e convívio são, na verdade, lugares em que os indivíduos são, de um certo modo, impelidos a revogar seus laços. Isto é, eles não vão para socializar-se devido ao facto de já carregarem consigo companhias específicas que previamente já tencionam desfrutar.

Portanto, nestes centros de consumo instala-se uma atmosfera de conforto, com a concepção de ser todo o mundo igual e ter a mesma intenção como se fossemos todos parte de uma comunidade, porém evitando que nos possamos embater com as diferenças e modos diferentes de viver dos outros.

O processo de repelir o oposto, de evitar o contacto com estranhos aplica dois processos: antropofágico (com o intuito de eliminar o outro) e antropoémico (suspensão da alteridade do outro). Nesta onda estão integrados os não-lugares e os espaços vazios. Os não-lugares possuem um aspecto público, mas são não-civis, como o La Défense, em Paris, cuja estrutura faz com que os estranhos tenham presença meramente física, dispensando o domínio da civilidade.

Ademais, os ditos espaços vazios constituem áreas habitadas por pessoas meramente outras, ofuscadas dos nossos mapas mentais, cuja exclusão faz os demais lugares se encherem de significado. Neste âmbito, este distanciamento da civilidade, da habilidade de relacionar-se com o estranho sem que a diferença seja utilizada de forma desconfortável, é a característica dessas categorias. Isto acontece porque a habilidade de interacção com o indivíduo com características diferentes das nossas não é fácil tê-la a não ser por um empenho profundo de modo a enfrentar e aceitar a pluralidade do outro.

O forma mais eficaz, neste caso, para garantir a fuga para um canto seguro quando ninguém consegue se comunicar com ninguém é a origem étnica, que soa natural. Um contexto em que todos são parecidos com todos e a comunicação e facilitada. Perante este facto, a política transforma-se em uma revelação da identidade em vez dos interesses comuns e passa a importar o que se é e não o que se faz. Actualmente, a extinção do diálogo e da negociação é a grande doença pública e política.

Nos tempos que correm, a modernidade é a história do tempo, ou seja, é o tempo em que o tempo tem uma história. Contudo, antigamente, a interacção das pessoas com o tempo e o espaço se dava nos seus limites emocionais com o meio físico mais próximo. Ora, na modernidade, cada homem construi novas formas de transporte, permite a manipulação do tempo, tornando os humanos diferentes, pois agora alguns podem chegar onde quer bem antes dos outros.

Nas eras antigas, o poder baseava-se na territorialidade e no princípio do quanto maior, melhor. Porém, da mesma forma, os prédios e máquinas também acorrentavam o capital e, ainda que pretendesse ser o controlador, estava por esse fato limitado.

Hoje em dia, diante do capitalismo de software e nessa modernidade leve, o espaço pode ser atravessado em nenhum tempo, cancelando a diferença do longe e do perto, desvalorizando o espaço e desprivilegiando qualquer lugar em específico. Na verdade, hoje em dia, todo aquele que tem domínio deste novo tempo e se locomove com rapidez, ditam as regras, e os que permanecem presos ao lugar, obedecem.

O capital, finalmente, distanciou-se das responsabilidades com um locus. Sendo agora descorporificado, viajar esperançoso e confiante, enquanto o trabalho, como antes, é irrealizável isoladamente. Portanto, actualmente, entre as empresas, as fusões e a redução do tamanho passaram a ser a regra, fazendo com que cada um lute pela sobrevivência, tornando desnecessária qualquer supervisão, pois o receio de ser ultrapassado é o suficiente para manter a disciplina.

O capital, assim, pretende atingir a remuneração ao mesmo tempo em que combate os efeitos do seu modus operandi. Acrescido a isso, a cultura dos tempos modernos não dá muita relevância ao passado e não acredita no futuro. Deste modo, surgem estorvos que dificultam as pontes culturais e morais entre transitoriedade e durabilidade e impedindo a assunção de responsabilidades de longo prazo. Essa inflexão do capitalismo pesado ao leve, da modernidade sólida para a fluida, pode ser ainda mais radical que o próprio advento da modernidade e do capitalismo.

Não ocorreram indescritíveis mudanças com a passagem da modernidade pesada à leve. Contudo, a estrutura social foi preenchida pela intensa procura pela da proximidade das fontes da dúvida. Este evento guiou a sociedade a um novo paradigma sociológico: instantaneidade. Este termo alude a pessoas que se movem velozes, que mais se aproximam do momentâneo do movimento, são as pessoas que agora mandam, mas que, em contrapartida são as que obedecem as normas.

Portanto, a nova forma de dominação consiste na capacidade de se libertar, voar, estar num outro local e decidir em que velocidade de execução da acção e ao mesmo tempo de destituir os que estão do lado dominado de sua capacidade de parar, ou de limitar seus movimentos ou torná-los mais vagarosos.

A grande luta nos tempos que correm é entre forças que tem em suas mãos as armas da aceleração e da procrastinação. A capacidade de ser instantâneo é importante nas imprevisíveis sociedades modernas e é um dos requisitos indispensáveis para se alcançar a liberdade.

O modo de vida estabelecido nos dias que correm permitiu que os servos outrora engaiolados servindo os seus chefes saíssem das gaiolas. A corrente modernidade é o período do desengajamento, da saída fácil e da perseguição inútil. Na modernidade líquida mandam os mais escapadiços, os que são livres para se mover de modo imperceptível. Todas estas acepções influenciam o contexto moderno de trabalho.

Para Polanyi, o trabalho não pode ser visto como uma mercadoria dado que não pode ser vendido ou comprado separado de seus portadores. Este autor destacou-se ao desenvolver estudos sobre o que veio a chamar trabalho incorporado. Este termo é referente ao trabalho que não podia ser movido sem mover os corpos dos trabalhadores. Só se podia alugar e empregar trabalho humano

junto com o resto dos corpos dos trabalhadores, e a inércia dos corpos alugados punha limites à liberdade dos empregadores. Para supervisionar o trabalho e canalizá-lo conforme o projeto era preciso administrar e vigiar os trabalhadores; para controlar o processo de trabalho era preciso controlar os trabalhadores.

Nos tempos que correm, o trabalho foi tirado desta inércia e complexidade estudada pelo autor acima. O capital se livrou do peso e dos custos exorbitantes de mantê-lo; o capital ficou livre da tarefa que o prendia e o forçava ao confronto directo com os agentes explorados em nome de sua reprodução e engrandecimento.

Nos tempos modernos em que reina o software, o trabalho não mais se amarra o capital. Na verdade, permite ao capital ser extraterritorial, volátil e inconstante. A transfiguração do espaço dentro do tempo e perante o trabalho estabelece a ausência de peso do capital. Sua dependência mútua foi unilateralmente rota: enquanto a capacidade do trabalho é, como antes, incompleta e irrealizável isoladamente. Nos dias actuais, o capital humano pode viajar rápido e leve sem complicar a execução pragmática das actividades.

 

Com o surgimento da instantaneidade a cultura e a ética humanas movem-se a um território desconhecido e não explorado. Neste contexto, o maior número das práticas desenvolvidas para lidar com os afazeres da vida perdeu sua aplicabilidade e sentido diante das novas tendências.

Contudo, importa destacar aqui que, a memória do passado e a confiança no tempo vindouro foram até os dias de hoje dois importantes pilares, nos quais incontáveis realidades culturais e morais entre a transitoriedade e a durabilidade, a mortalidade humana e a imortalidade das realizações humanas, e também entre assumir a responsabilidade e viver o momento, vem ganhando suporte no sentido de resistir a tantas intempéries sociais.

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Fernando Chaúque

FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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