José Luis Peixoto é escritor contemporâneo, nasceu em 1974, em Galveias, ao norte de Portugal, uma pequena aldeia marcada principalmente pela agricultura. Estudou Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) na Universidade Nova de Lisboa. É autor de romances, poemas, peças de teatro, literatura de viagens e artigos de jornal. O autor recebeu já inúmeros prémios pelas suas obras, incluindo o Prémio Literário José Saramago. Os seus romances foram traduzidos em várias linguas. Peixoto é autor de várias obras como, Galveias (2014), Nenhum Olhar (2000), Almoço de domingo (2021) e Morreste-me (2000) que é o livro escolhido para esta mini-resenha.
Inicialmente, Morreste-me é uma obra que conta e relata a história de um filho que é invadido pelo sentimento de saudade que tem do pai e reflete o modo como um filho encara a ausência do seu pai, assim como a morte de um pai tem influência na vida de cada um de nós. Em Morreste-me pretende-se transmitir a ideia do luto, de como é possível encarar a morte de uma forma distinta, embora o livro seja tão profundo quanto delicado, é possível através desta obra encarar-se o sentimento de perda, de ausência, de tristeza de outro modo. Pois bem, trata-se de uma narrativa poética que conta com um narrador-personagem, pois considerei a matéria do texto relevenate pelo simples facto de estarmos inseridos numa sociedade vulnerável aos sentimentos de perda, dor, ternura e tristeza. É uma narrativa curta e breve, mas extremamente envolvente.
No entanto, acredita-se, segundo vários autores da área de filosofia, como por exemplo, Mario Sergio Cortella, professor e filosofo brasileiro, no seu livro intitulado Qual é a sua Obra?, envolve-nos numa reflexão sobre a morte, que não há como não escapar da morte, porém, a única forma de não morrermos é ficando nas outras pessoas, isto é, ser lembrado. E de que forma, podemos ser lembrados? Deixando um legado. A questão que nos colocamos é, qual legado? Neste sentido, acrescenta ele que, quando um sujeito deixa de existir e, consequentemente, as pessoas lembrarem dele acaba deixando um legado, um legado memorável, que os que ainda vivem podem desfrutar. Pode-se ler a seguir um trecho do livro:
(…) Pai. Nunca envelheceste, e eu queria ver-te velhinho, velhinho aqui no nosso quintal, a regar as árvores, a regar as flores. Sinto tanta falta das tuas palavras. Orienta-te, rapaz. Sim. eu oriento-me, pai. E fico. Estou. O entardecer, em vagas de luz, espraia-se na terra que te acolheu e conserva. Chora chove brilho alvura sobre mim. E oiço o eco da tua voz, da tua voz que nunca mais poderei ouvir. A tua voz calada para sempre. E, de uma vez, deixas de respirar. Para sempre. Para nunca mais. Pai. Tudo que te sobreviveu me agride. Pai. okNunca esquecerei. (…) pg:19
Além de, simbolicamente, retratar e valorizar a figura de um pai na convivência familiar, no crescimento emocional de um filho que tanto clama e sente a ausência paternal, Morreste-me resgata a ideia de que a vida é construída a partir de memórias e sentimentos inevitáveis, a partir de momentos vividos dentro ou fora do seio familiar. São esses momentos, essas memórias, esses sentimentos que do nascimento à morte nós, consequentemente, deixamos.
Portanto, desde o começo da prática da literatura, os escritores tanto da época medieval, assim como, os da época atual, usaram e continuam usando a literatura como um meio de imortalizar os momentos, os pensamentos e os sentimentos que marcam a sua vida. Não só, como acredita-se que a literatura não é apenas este meio de imortalizar as coisas, como também, é a única forma indispensável para nos reinventarmos a cada momento das nossas vidas. Além desta reflexão, este livro abre espaços para mais reflexões. Recomendo-o. Pois, esta mini-resenha não se limita a estes pensamentos. É o começo de várias eflexões sobre Morreste-me.
Referência bibliográfica
PEIXOTO, José Luis, Morreste-me, edição portuguesa, 1ª edição, Lisboa, 2000.
Por Gaspar A. T. Pagarache, estudante de letras em língua Portuguesa na Universidade Unilab, brasil, 2024.
Brasil, 2024