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    Ensaio

    The Emperor of Gladness, de Ocean Vuong – Consumo, Guerra e Resistência

    Fernando ChaúqueBy Fernando Chaúque17/07/2025Sem comentários6 Mins Read
    The Emperor of Gladness, de Ocean Vuong - Consumo, Guerra e Resistência
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    O mais recente romance de Ocean Vuong, The Emperor of Gladness, é uma obra ousada e notável que capta as esperanças e desilusões das pessoas que vivem na América contemporânea. A narrativa tem início na cidade fictícia de East Gladness, Connecticut, com o improvável encontro entre Hai, um jovem vietnamita-americano que planeia atirar-se de um edifício por sentir que “já não há caminhos para seguir”, e Grazina Vitkus, uma refugiada lituana da Segunda Guerra Mundial, com 80 anos. Grazina oferece alojamento a Hai em troca da sua ajuda a lembrar-se de tomar a medicação, e a amizade sincera entre ambos ilumina o mundo cru e árido que habitam.

    Neste romance, sente-se intensamente a dureza de uma sociedade capitalista. O dinheiro – ou, mais precisamente, a necessidade crescente dele para sobreviver – é um motivo recorrente. Quando Hai começa a trabalhar na HomeMarket — uma popular cadeia de fast food — faz um turno experimental de cerca de quatro horas, mas quase não é remunerado, pois Sony brinca dizendo que se esqueceu de registar a sua presença.

    A HomeMarket funciona tanto como espaço físico como metafórico — um local onde a vida laboral e o consumo quotidiano se repetem, alimentando a sociedade com comida industrializada e artificial, ao mesmo tempo que o slogan publicitário promete “Dia de Ação de Graças todos os dias do ano.” Em termos mais amplos, há muito por explorar em East Gladness enquanto metáfora espacial e tudo o que diz sobre as pessoas comuns enquanto cidadãos entre a esperança e a desilusão: “Se procurares a Felicidade e falhares, encontrarás-nos. Pois chamam-nos East Gladness”, uma terra rebatizada em honra de “um rapaz que voltou da Grande Guerra sem membros e se tornou herói — prova de que se pode perder quase tudo de si neste país e ainda assim ganhar uma cidade inteira.”

    No enredo, as personagens não passam por grandes transformações. O romance foca-se de perto nas vidas de pessoas comuns como Grazina e Hai, que fazem o possível para manter a sua dignidade e sentido de valor próprio. Vuong opta por revelar o passado de Hai apenas alguns capítulos mais à frente: Hai foi criado pela mãe, avó e tia Kim, “mulheres poupadas pela guerra no corpo, mas não na mente.” A mãe trabalha num salão de beleza e, segundo Hai, está “presa no nível treze” do Tetris “há mais de um ano.” Ele abandona a universidade e torna-se dependente de drogas. Impulsionado pelas suas ambições frustradas, Hai decide sair de casa, mentindo à mãe ao dizer que foi aceite numa faculdade de medicina em Boston, mentira que a enche de orgulho.

    A narrativa assenta fortemente nos diálogos vivos entre Hai e os colegas da HomeMarket — o gerente BJ, Maureen, a tia Kim, Wayne e Sony, primo de Hai — e revela também o impacto irreversível e devastador da guerra nas pessoas, independentemente da sua classe ou origem. Hai e Grazina revivem frequentemente a guerra através de encenações de batalhas que se aproximam de cenas de violência real, mas que são “tão parecidas com o inferno que parecem falsas”, como “gemidos de sangue coagulado enquanto ela ri e sopra fumo do dedo torto erguido…” Sony finge que o pai, que combateu no exército do Vietname do Sul, ainda está vivo. Hai e o seu grupo lutam para enterrar os respetivos passados traumáticos: Grazina sofre de demência, mas por vezes recorda as atrocidades da guerra, como o momento em que implorou aos soldados para pouparem a sua família, e por vezes dorme com uma nota de dólar pendurada sobre a cama. A decisão de narrar o pós-guerra, particularmente através das vidas fragmentadas dos imigrantes, é um ato de resistência contra a indiferença política.

    O elemento de realismo mágico presente na obra funciona como um dispositivo poderoso, contrapondo-se às verdades mais duras que o romance denuncia sobre a opressão quotidiana resultante do racismo sistémico, da microagressão e do capitalismo em East Gladness. Por exemplo, ao escapar de uma bomba dos vietcongues durante uma visita à joalharia, o pai de Sony fica com um diamante gigantesco incrustado como ferida na mão — um símbolo do trauma da guerra e uma metáfora para o seu valor oculto. Certa vez encontram um coiote contorcendo-se junto ao restaurante, que afinal é um homem a implorar ajuda. BJ, na arena de luta livre — conhecido como Deez Nuts — aplica os golpes “Bahama Bomb” para derrotar Miss Magician, uma adorada campeã local e idosa, que desmorona numa “pilha de purpurinas”, enquanto Maureen apoia o espetáculo dedilhando o banjo.

    Através destes retratos originais da classe trabalhadora e das suas feridas não resolvidas, o livro apresenta uma crítica implacável à sociedade consumista e questiona a (im)mobilidade social na América contemporânea. Por mais que tentem, Hai, Grazina e os seus amigos percebem que a América não cumpre o que promete, sobretudo porque são imigrantes ou filhos de imigrantes. Por exemplo, a tia Kim suplica a Hai que minta à mãe, pois quer que a irmã acredite que ela vive uma vida confortável numa grande casa com um Honda na Florida. Ainda assim, estas personagens são admiráveis pela sua resiliência, humor e otimismo. Além disso, o livro relembra-nos a tensão política e as divisões do presente, testemunhadas por esta geração na fictícia East Gladness e corporizadas no quotidiano, nos objetos e na cultura popular — como o cartaz do “Obama ’08 Yes We Can!” ainda afixado à porta da pizzaria local Sgt. Pepper Pizza, ou na casa de Grazina, onde Hai e ela escutam uma emissão de rádio sobre mais uma possível retirada das tropas americanas do Afeganistão até ao Natal.

    Comparado com o primeiro romance de Vuong, On Earth We Are Briefly Gorgeous, The Emperor of Gladness foca-se mais no presente do que no passado, privilegiando as personagens em detrimento de uma única subjetividade narrativa, conduzindo-nos de volta à humanidade através da resiliência e da esperança dos protagonistas.

    A amizade é um tema vital que atravessa toda a obra. Está presente na camaradagem quotidiana, algo mais nutritivo e redentor do que a promessa do dinheiro. É intangível e não pode ser comprada, mas pode ser dada livremente. Por exemplo, vislumbramos o esforço de Hai para compreender Grazina, e o seu compromisso de ajudá-la com a medicação diária; vemos Hai e os colegas da HomeMarket a apoiarem incondicionalmente BJ na sua atuação de luta livre, apesar dos apupos do público. Para Sony, a amizade ajuda-o a lidar com a perda do pai. Desta forma, Hai e os seus colegas continuam a amar East Gladness, com os seus “dois McDonald’s e um GameStop.” The Emperor of Gladness não é uma história onde os sonhos se realizam. Antes, trata-se da honestidade e generosidade que estas personagens conseguem oferecer, e da sua capacidade de se manterem firmes apesar das pressões de uma sociedade implacável, repleta de divisões raciais e políticas. Em última análise, a vitória não está em mudanças concretas, mas no modo como constroem uma família escolhida onde são compreendidos por aquilo que realmente são.

    Fonte: A Review of Ocean Vuong’s The Emperor of Gladness, by Jennifer Wong.

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    Fernando Chaúque
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    FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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