Ernestino Maute é escritor, professor de língua portuguesa e membro da Associação dos Escritores Moçambicanos. Natural de Maputo, estudou Literatura Moçambicana e é licenciado em Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade Eduardo Mondlane. Em 2018, estreou-se com o livro Cicatrizes e Uma Alma Reclusa, depois de vencer o Concurso Literário Alcance Editores.
Agora, Maúte apresenta O Epitáfio do Josemar Araújo e outros ateus do criador, uma colectânea de contos que traz reflexões sobre temas como a loucura, a morte, a marginalização e a crítica social, e será lançado amanhã (28/05), no Business Lounge By Nedbank.
Nesta entrevista, o autor fala sobre o processo de criação da obra, as inspirações por trás dos personagens e as “mensagens” que pretende passar aos leitores.
Fernando Absalão Chaúque (FAC): Gostava de saber, da voz do próprio autor, como define este “O Epitáfio do Josemar Araújo e outros ateus do criador”?
Ernestino Maute (EM): “O Epitáfio do Josemar Araújo” é um livro de contos instigantes, dos quais a crítica social é dominante!
FAC: O que o motivou a escrever este livro?
EM: A necessidade de sintetizar o meu olhar sobre o mundo e, quiçá, romper/propor modelos de convivência social.
FAC: A morte e a loucura aparecem como temas centrais na obra, muitas vezes interligadas. Como enxerga essa relação simbólica entre esses dois elementos?
EM: É uma relação flagrante e dominante nos tempos que correm, pois com a degradação dos valores morais, o mundo dá passos galopantes rumo à morte social, à loucura individual e colectiva. A morte e a loucura são “tubos” de escape, para essa degeneração aguda do humanismo.
FAC: Em 2018 estreou-se com o livro de poesia intitulado “Cicatrizes e Uma Alma Reclusa”, e agora brinda-nos com este livro de contos. O que motivou a sua migração para este gênero?
EM: Migrei como uma forma de exercitar a criatividade. Ademais, neste dobrar do pulso para a prosa, levo comigo a poesia, pois um bom romance, uma boa novela ou uma agradável crónica, trazem consigo uma cronometrada e vigiada dose de poesia.
FAC: Como foi a criação deste livro? Começou já com uma ideia definida ou as peças foram se conectando ao longo do processo?
EM: Do que me lembro, eu só queria escrever contos. As idéias foram surgindo com o tempo, como é de praxe.
FAC: Como construiu os personagens que aparecem nos contos, especialmente aqueles que vivem à margem da sociedade, como loucos, prostitutas e alcoólatras?
EM: O nosso quotidiano está repleto de personagens. Umas melhores que as outras no seu respectivo campo de acção. É com um olhar circunspecto que se faz a transposição desses seres com os quais nos deparamos a cada dia. Mas, algumas personagens são fruto de imaginação!
FAC: Qual é a principal “mensagem” ou reflexão que o senhor espera despertar nos leitores com essa obra?
EM: Despertar no leitor a necessidade de pensar para além da caixa/pauta, aceitando a existência de mundos paralelos, o dos mortos e o dos loucos.
FAC: O título do livro é instigante e provocador. Qual é o significado de “Epitáfio” nesse contexto e quem são os “ateus do criador”?
EM: Permita-me inverter a ordem da questão, começando por dizer que os ateus do criador são todas as personagens do nosso dia-a-dia: irreverentes e rebeldes, aqueles que se escusam a seguir a pauta ou os referidos modelos tidos como ideais e, nessa perspectiva o Epitáfio é a sentença ou decreto do nosso sofrimento colectivo!
FAC: Há muitos loucos neste livro. Diga-me, trata-se de um e único louco que se vai apresentando com nomes diferente em cada texto ou cada louco é diferente dos outros?
EM: O mundo é um mosaico de loucos. Cada um com a sua especificidade!
FAC: Há um novo projecto já à vista?
EM: “O fruto só cai da árvore quando estiver maduro.” Vivemos sempre com as mãos na massa.