Ferreira (1977) firma que, motivados pelas particularidades encontradas na literatura de cabo verde, vários estudiosos afirmam que está entre as mais ricas e importantes da África Ocidental. Aliás, a literatura em Cabo Verde apresenta uma particularidade que a distingue de outras produzidas noutras colónias de língua portuguesa, pelo alto índice de mestiçagem, a pobreza do solo, precariedade de emprego, atraso de aparecimento de editoras e escolas.
Segundo Viega (1998), as tradições orais estão eivadas da poesia, dos contos, adivinhas e adágios populares. Prova disso são os Contos de Lobo e Chibinho, a Karkutisan e Rodriga da ilha do Fogo e o Batuque e Finaçon da ilha de Santiago, entre diversas manifestações da oratura por todas as ilhas. Acrescentado a isto, os temas culturais mais correntes da literatura cabo-verdiana são a emigração, o mar, a evasão, o isolamento, a insularidade, o amor, a saudade ou a simplicidade de uma existência pacífica.
Para Gomes (2008), o primeiro registo literário de Cabo Verde foi no século XVI com algumas obras da autoria de André Álvares de Almada , este escreveu anais da expansão portuguesa, o seu mais importante foi um tratado sobre os Rios da Guiné de Cabo Verde, zona situada entre o Senegal Rio e Serra Leoa. A literatura cabo-verdiana raramente seria gravada até 1890 com Eugénio Tavares com os seus poemas da morna , ele próprio era o golfinho de Cabo Verde, os seus poemas eram escritos em crioulo Brava. O segundo livro crioulo foi A dor do amor de Xavier da Cunha publicado em 1893.
Segundo o autor acima, o surgimento da literatura coincidiu com o surgimento do nacionalismo e da independência de Cabo Verde. A literatura floresceu no século XX. Diário publicado em 1929 pelo português António Pedro , iria plantar as sementes para a criação da Claridade juntamente com a revista portuguesa Presença que também foi lida em Cabo Verde e na literatura brasileira moderna. Além disso, Francisco Xavier da Cruz , mais conhecido por B. Leza, escritor que também foi músico, escreveu várias obras incluindo Uma partícula da Lira Cabo-Verdiana (1933) que apresenta 10 mornas do próprio e um texto que explica as suas ideias sobre a música cabo-verdiana . Alguns trabalhos sobre a África foram feitos por Augusto Casimiro, um deles era Ilhas Crioulas, publicado em 1935, que foi criado no arquipélago e pode ser considerado o último ingrediente para a criação da revisão um ano depois.
Laranjeira (1992) também afirma que depois da independência e da literatura moderna Cabo Verde tornou-se independente em 5 de Julho de 1975. A literatura cabo-verdiana começou a florescer ainda mais, a obra A Ilha de Contenda foi publicada em 1976. Escritores como Henrique Teixeira de Sousa, Gabriel Mariano e outros continuaram a escrever e publicar após a independência. Mariano também escreveu livros sobre alguns dos primeiros grandes escritores cabo-verdianos. Germano Almeida escreveu O dia das calças roladas em 1982, O Último Testamento do Senhor da Silva Araújo em 1989 que mescla humor com realismo cruel, às vezes patético, em uma escrita moderna que privilegia o estilo indirecto livre. Posteriormente, foi transformado em filme em 1997. Posteriormente escreveu sobre a História de Cabo Verde intitulado Cabo Verde: Viagem pela história das ilhas em 2003. As suas obras mais recentes têm como cenário principal o Mindelo, incluindo De Monte Cara vê-se o mundo em 2014, não muito depois de a baía ter sido a quinta mais bonita do mundo.
Também nessa altura, mais bibliotecas foram abertas nos anos 1980 e no início dos anos 1990 à medida que a taxa de alfabetização do país aumentava constantemente, entre estas as bibliotecas da Assembleia Nacional de Cabo Verde, o Banco de Cabo Verde e outros ministérios, Biblioteca Municipal Jorge Barbosa em Palmeira na Ilha do Sal, Santo Antão e outras instituições.
Segundo Laranjeira (1992) a literatura Cabo-verdiano, a trajectória cabo-verdiana divide-se em seis grandes períodos:
O primeiro período da literatura cabo-verdiana compreende desde as origens à 1925. Este período é geralmente chamado de iniciação, por, a par de grandes vazios, abranger uma variada gama de textos muito influenciados pelas duas fases do baixo romantismo e do parnasianismo. Foi neste período que foi feita a publicação do romance O Escravo de José de Almeida, e Arquipélago de Jorge Barbosa.
O segundo período parte de 1926 a 1935. Este é geralmente chamado por Hesperitano, antecedendo a modernidade que o movimento da Claridade (1936) incarnou. Neste período, os poetas criaram o mito poético para escaparem idealmente à limitação da pátria portuguesa, exterior ao sentimento ou desejo de uma pátria interna, intima, simbolicamente representada pela lenda da Atlântida, de que resultou também o nome de atlantismo hispertano.
O terceiro período principia em 1936 com a publicação da revista Claridade e vai até 1957. Em 1941 sai a Ambiente (1941), livro de poemas de Jorge Barbosa, António Nunes publica poemas de longe (1945), Manuel Lopes publica os poemas de quem ficou (1949), Chiquinho de Baltasar Lopes.
O quarto período vai de 1958 a 1965, em que, com o suplemento cultural, se assume uma nova cabo-verdianidade que, por não desdenhar o credo negritudista, se pode apelidar Cabo-verdianitude, que, desde a sua ténue assunção por Gabriel Mariano, num curto artigo (1958), até muito depois do ensaio de Onesimo Silveira (1963), provocou uma verdadeira polémica em torno da aceitação tranquila do patriarcado da Claridade.
O quinto período vai de 1966 a 1982, do universalismo assumido, sobretudo por João Vario, quando o PAIGC se achava já envolvido, desde 1963, na luta de libertação nacional abrindo, aquele poeta, muito mais cedo do que nas outras colónias, a frente literária do intimismo, do abstraccionismo e do cosmopolitismo.
O sexto período compreende de 1983 à actualidade, começando por uma fase de contestação, comum aos novos países, para gradualmente se vir afirmado como verdadeiro tempo de consolidação do sistema e instituição literária. O primeiro momento é denominado pela edição da revista Ponto e virgula (1983 – 1987), liderada por Germano de Almeida e Leão Lopes.
Segundo Gomes (2008), Claridade é uma revista literária e cultural surgida em 1936 na cidade do Mindelo, Cabo Verde, e que está no centro de um movimento de emancipação cultural, social e política da sociedade cabo-verdiana. Os seus responsáveis foram Manuel Lopes, Baltasar Lopes da Silva (que usou o pseudónimo poético de Osvaldo Alcântara) e Jorge Barbosa, respectivamente oriundos da ilha de São Vicente, ilha de São Nicolau e da ilha de Santiago. Resolveram seguir as pegadas dos neo-realistas portugueses, assumindo no arquipélago a causa do povo cabo-verdiano na sua luta pela afirmação de uma identidade cultural autónoma baseada na criação da “cabo-verdianidade” e na análise das preocupantes condições socioeconómicas e políticas das Ilhas de Cabo Verde.
Do ponto de vista literário, a Claridade veio não só veio revolucionar de um modo exemplar toda a literatura cabo-verdiana como também marcar o início de uma fase de contemporaneidade estética e linguística, superando o conflito entre o Romantismo de matriz portuguesa — dominante durante o século XIX — e o novo Realismo. Ao nível político e ideológico, a Claridade tinha como objectivo procurar afastar definitivamente os escritores cabo-verdianos do cânone português, procurando reflectir a consciência colectiva cabo-verdiana e chamar a atenção para elementos da cultura cabo-verdiana que há muito tinham sido sufocados pelo colonialismo português, como é o exemplo da língua crioula.
Atentos à realidade do quotidiano do povo das ilhas na década de 1930, estes filhos esclarecidos de Cabo Verde preocuparam-se com a precária situação vivenciada pelo povo, manifestada pelo sofrimento, miséria, fome e morte de milhares de cabo-verdianos ao longo dos anos; uma situação com origem na má administração do arquipélago pelo governo de Portugal, principalmente durante o regime fascista do António de Oliveira Salazar; não sendo, no entanto, alheios à desastrosa situação do povo ilhéu as frequentem estiagens.
De acordo com Gomes (2008), os fundadores da Claridade lançaram as mãos ao trabalho. Isto é, “fincaram os pés na terra,” de acordo com o seu célebre conteúdo temático, para a execução do seu plano de trabalho. No entanto, teriam que proceder de uma forma muito discreta, devido ao regime de censura colonial existente sob a vigilância constante e aterrorizada da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), temida pelo seu método de tortura; nomeadamente atrás das grades do presídio político do Campo do Tarrafal, na Ilha de Santiago.
Para poderem dar conta da penosa situação de Cabo Verde, começaram por pensar que um jornal periódico seria a arma ideal – mais eficiente – para combater a situação. Porém, na sequência de lhes terem exigido um depósito de 50 mil escudos, uma quantia exorbitante na época, optaram pelo lançamento de uma revista. Claridade – o nome atribuído – resultou como um título bem escolhido, pois constituiu um ‘farol’ que projectou uma luz rejuvenescedora, intensa e duradoura sobre Cabo Verde, no despertar de uma literatura realista e moderna. O nome de Claridade foi inspirado pelo livro Clarté de Henri Barbusse.
Bibliografia
FERREIRA, Manuel. Literaturas africanas de expressão portuguesa. 1.ed. Venda Nova, Amadora: Livraria Bertrand, 1977. V. 1.
GOMES, Simone Caputo. Cabo Verde: literatura em chão de cultura. Cotia-Praia: Ateliê Editorial-Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro de Cabo Verde-UNEMAT, 2008.
LARANJEIRA, Pires. Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa, Lisboa, Universidade Aberta, 1992.
VEIGA, Manuel (org). Cabo Verde: insularidade e literatura. Paris, Karthala, 1998.