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    Home»Ensaio»Acto plausível de humilhação
    Ensaio

    Acto plausível de humilhação

    Fernando ChaúqueBy Fernando Chaúque04/07/2025Sem comentários5 Mins Read
    Acto plausível de humilhação
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    Alguns escritores são procurados pela máfia por conta das suas ousadas abordagens e publicações. Imagina estar na mira do Cosa Nostra, grupo cujas ramificações e influências estão em toda a parte do mundo e interligam-se com outros grupos influentes como o Camorra ou Ndrangheta.

    Os mais comuns e famosos casos de perseguição a escritores envolvem governos e sindicatos religiosos. Lembremo-nos do caso de Salman Rushdie, condenado à pena de morte por “Versículos Satânicos.” O recém-falecido escritor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, ao retornar ao seu país de origem, 22 anos depois de se ter exilado por razões políticas, viu a sua esposa estuprada por quatro divíduos, provavelmente contratados por aqueles que o mantiveram preso por um ano sem nenhum julgamento.

    Casos do género são diversos. No entanto, este é sobre um escritor perseguido pela máfia da pesada, não pelos políticos silenciadores de pensadores críticos ou sistemas que não suportam conviver com intelectuais íntegros e incorruptíveis. Roberto Saviano – escritor e jornalista italiano – é responsável por várias pesquisas (publicadas em livros e reportagens) sobre o funcionamento da máfia italiana. Publicou os aclamados romances “Gomorra” e “Zero Zero”. Todos sobre os corredores da máfia e seus “capos”. Mais ainda, Saviano tem descodificado as relações existentes entre o crime organizado e a economia formal e, por conta desta ousadia, vive sob escolta policial permanente. Os chefões procuram assassiná-lo por várias razões mas, principalmente, por ter revelado segredos profundos do crime organizado e as suas ligações com o poder formal – o Estado, o futebol, o sector empresarial, o sector familiar e o sistema internacional.

    A máfia italiana comporta-se como aquelas pulgas que se alastram e penetram a comunidade. Há, inclusive, santos virgens envolvidos nela, sem excepções de idade, género ou classe social. Os personagens de Saviano lidam sempre com estas complexas articulações mafiosas. “Meninos de Nápoles” não escapa dessa regra. O romance principia com uma cena chocante e repugnante em que o protagonista – Nicolas Fiorillo ou Marajá – defeca literalmente na boca de um outro miúdo que se atreveu a saudar-lhe a namorada nas redes sociais; por apenas tê-la saudado, sem grandes engates.

    Após ter lançado o bolo fecal na boca do inimigo, Nicolas dá-se ao trabalho de publicar o vídeo que ilustra o exacto momento em que os excrementos lhe saem das entranhas para atolar as faces da sua vítima. Esta cena representa um verdadeiro acto plausível de humilhação e, como se fosse um autêntico hook fílmico, mantém o leitor preso à narrativa que se vai revelando em gírias e expressões grosseiras. No entanto, terminologias ideais do crime e da descortesia da informalidade.

    Ao longo das páginas, assistimos ao crescimento de Nicolas nas ruas de Forcella até à formação da sua “paranza” (gang composta apenas por adolescentes). Engana-se quem pensa que estes são adolescentes de rua ou algo do género. Não, não são. São jovens provenientes de famílias normais, com educação formal e comida na mesa. No entanto, respiram a ambição de comandar as ruas de Nápoles, querem tudo, dinheiro, colares de ouro, iPhones, mulheres e tudo. Cobiçam a boa vida que lhes é exibida pelos chefões. Transformam-se em criminosos para que também possam ter dinheiro para gastar em restaurantes, principalmente no famoso “Novo Marajá”. Sabem que a irmandade é crucial para a prosperidade do grupo, mas não toleram abusos que colocam em causa a imagem da “paranza.”

    Nicolas é um líder carismático que nasceu para ser criminoso. Gaba-se por ter coragem, sabe infiltrar-se e não aceita engolir sapos de quem quer que seja. Este personagem encaixa-se melhor no postulado que diz: “o Homem é mau por natureza.” Mas ser mau, para Nicolas, não significa ser insensível, porque até mesmo os perigosíssimos “capos” apaixonam-se e respeitam a família biológica.

    Amante de cinema e fã de “Breaking Bad”, Nicolas revela ao leitor que os verdadeiros líderes – aqueles que ambicionam cargos máximos no mundo do crime – devem tomar decisões estúpidas para que nunca sejam questionados por seus pares. É nesta lógica que decide treinar as suas habilidades criminosas; juntamente com os seus, agarrara uma arma de fogo e põe-se a alvejar aleatoriamente indivíduos de raça negra, porque sabe que as autoridades se preocupam menos quando morre um preto. Quando questionado sobre o porquê de vitimar inocentes, responde que os alveja simplesmente por serem pretos, bons objectos para praticar a pontaria. Não será este um acto de humilhação? Neste caso, um acto de humilhação racial?

    Até às últimas páginas do romance, Nicola prova-nos que a humilhação pode constituir um trunfo para impor respeito. Não é por acaso que, por uma mera desconfiança, submete um dos seus homens a um severo acto de punição, obrigando-o a fazer-se presente ao grupo na companhia da irmã para que esta seja abusada sexualmente por todos. Reservo o desfecho desta cena para quem se dará tempo de ler o romance na íntegra. Mas nem tudo termina como se imagina.

    São praticamente quatrocentas páginas de suspense, agitação e conspiração. Mas acima de tudo, muita violência misturada com pouco sexo. Saviano põe-nos a passear nas bocas de Nápoles, apresenta-nos as pessoas vulneráveis da sua cidade e, de forma implícita, explica-nos que nem todos os mafiosos são vistos como criminosos. Ou seja, a máfia também surge como resposta ao fracasso do Estado em prover segurança para os mais fracos, principalmente para aquelas populações que habitam em zonas desfavorecidas. Negros e ciganos, por exemplo, estão mais propensos ao crime porque habitam em territórios inseguros, onde o poder do crime é mais vigente que o braço do Estado. Para que não se seja vítima do crime, opta-se por se ser criminoso. Ou por outra, pertencer a um grupo mafioso é buscar segurança para não sucumbir.

    Por: Albert Dalela

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    Fernando Chaúque
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    FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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