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A Economia do Amor em tempos das manifestações

Há outras economias que as manifestações afectam e elas não são perceptíveis a olho nu e, muito menos, para quem se engravata para validar ou negar as hipóteses da erosão dum país que deambula num futuro que não se escreve. É a “economia do amor e do afecto” entre aqueles que abraçados a um tecto salarial sorridente ou boladas a volume de contentores, protegiam os seus pares da chuva e do sol.

Ninguém se atreveria em falar da economia do amor e do afecto em hasta pública. É ultrajante e invasivo para uma sociedade quão reservada e doutrinada a modelo religioso. Não é do interesse público saber porquê a Júlia, uma jovem dum bairro afastado do centro da cidade, transbordara certeza de si que se confunde com elegância que silenciava as conversas insignificantes dos jovens que se penduram em vedações.

A economia do amor e do afecto está incorporada na micro economia que para um simples fazedor de poucos parágrafos ao dia, não saberia dar conceito cientificamente enquadrado. A única certeza é que essa economia já entristece a Júlia, a sua avó que dela dependia para sorrir e para apimentar a boca. As manifestações ocorrem em todo Moçambique e, ao pôr-do-sol, os bairros recolhem os ânimos para reacender o seu sentido lúdico. É aí que a Júlia faz falta. Já não sai com o mesmo rigor de certeza de si. Ou quando sai regressa empalidecida e com o semblante pouco jovial.

A Júlia anda com uma cor indecifrável para a sua natureza estética. Os jovens, sem menor entendimento, ficam entediados à sombra da mangueira que antes lhes trouxera o sonho de um dia, por mais minúsculo que fosse, viver a economia do amor junto da Júlia. Os que são moralistas exclusivamente à luz do dia poderão chamar a essa economia do amor e do afecto de prostituição. Os outros moralistas sem tolerância ao mundo moderno chamarão de prostituição disfarçada. Há algum interesse nesses apelidos ou designações?

A Júlia é parte do sistema cujo objectivo das manifestações é garantir que os jovens que se penduram nas vedações encontrem uma vida fora dos olhares que só cobiçam. Talvez a Júlia triplique a certeza de si quando as manifestações resultarem. Quem sabe? Talvez a Júlia mude de destino, longe do bairro que envergonha as suas vestimentas. Quem sabe?

Antes do anúncio da primeira manifestação, a Júlia foi vista umas tantas vezes com um certo indiano  de uma estatura mediana. Esse usa uma mota cinquentinha, mas é quem garante uns meticais equiparadas ao salário mínimo por duas semanas. O jornalista não credenciado garante que ainda está a trabalhar uma matéria de que a Júlia anda com um desprezível português nos arredores da Julius Nyerere na Cidade de Maputo. Todos esses sumiram, até o desprezível português que era escudo para frequentar lugares mais badalados também desapareceu.

Por Jorge Zamba

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Fernando Chaúque

FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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