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    Home»Crónica»A cidade em marcha
    Crónica

    A cidade em marcha

    Fernando ChaúqueBy Fernando Chaúque01/11/2024Sem comentários4 Mins Read
    A cidade em marcha
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    São 20 e poucas horas, a marcha dos carros a despedir-se da cidade é tanta que o pé se cansa de tanto pisar no freio. As paragens andam parcialmente vazias e as pessoas negam a boleia paga por temer serem violentadas ou mortas. Suponho. Entendo-os ainda que frustrado porque o motor depende de uns trocados para chegar à casa, de resto vê-se ao amanhecer. Um dia de cada vez. Olhámo-nos um ao outro, estou com o meu amigo que lhe alerto para tentar umas três pessoas na paragem de Ponto Final, Avenida Eduardo Mondlane.

    Percorremos a avenida até à polémica estátua de Eduardo Mondlane. Nada.  Apenas buzinas de  motoristas chapas a mostrarem a sua habilidade em fazer ultrapassagem irregular e a seguir a marcha mesmo quando o semáforo está fechado.

    – Bro, precisamos ser como esses chapeiros. – Disse o meu amigo, quase furioso.

    – Relaxa, irmano. Mais adiante, conseguiremos umas pessoas. – Acalmei-o.

    Por precaução, entramos nas bombas da ronil para babar o motor que provavelmente nos iria envergonhar no meio ao congestionamento. Era nossa obrigação apanhar pessoas para uma boleia paga, ainda que fosse necessário descer e fazer modja nas paragens. Estamos apreensivos que o meu amigo desliga a música.

    – Qual é bro, deixa a música tocar. Andrea Bocelli não tem culpa de nada. – Respondo colocando de volta a playlist.

    – Do que nos vale ouvir música calma quando estamos quase a nos atirarmos da janela de tanto stress? Taco, bro.

    Fizemos a pequena rotunda da Universidade Pedagógica de Lhanguene e logo ouvimos duas pessoas a gritarem “jardim”. Parámos. Boleia paga até jardim para duas pessoas vai ser no total, 30 Meticais.

    – Vamos arredondar para 20 meticais por pessoa, bro. – Sugere o meu amigo que antes me aconselhara a agirmos como chapeiros.

    – Não temos troco, por isso a boleia agora custa 20 meticais.

    Uma jovem que diz fazer Ensino de Química no pós-laboral manifesta contradição e o outro passageiro a acalma. Já se fala sobre o fim de semana antecipado, de quinta-feira até domingo. Quase no jardim o congestionamento permite que a conversa sobre a manifestação pacífica marcada para dia 24 e 25 seja o tópico para discussão. A polícia está a regular o trânsito e também atenta a qualquer infracção.

    – Não vai sair dinheiro de xitique essa semana. A polícia de trânsito está a perder dinheiro por conta do tráfego. – Disse a futura professora de Química.

    – Jardim é aqui. -Disse o meu amigo.

    – Nós vamos para Zimpeto, na verdade.

    Afinal, qual é a diferença entre o engano e uma promessa eleitoral? Perguntava-me silenciosamente enquanto a conversa sobre Venâncio Mondlane e Frelimo decorria. O barulho do debate ofuscou a música, ouvia-se vozes revoltadas e com palavras incendiárias. Um dos jovens levanta o pescoço sempre que se antevê a viragem revolucionária que pode durar décadas. Coça-se a cabeça como se tivesse sido roubado a identidade. Talvez cogita descer, não sei, cutuco ao meu amigo para mudar de conversa.

    – Já chegou a hora. – Insistiu um dos passageiros

    – Mas, por favor, essas músicas, parece  que é um casamento no momento da refeição.

    O meu amigo ficou feliz por ter, finalmente, um aliado para que eu desligasse ou pusesse outro ritmo musical. Queríamos uns trocados e  ouvimos histórias de vida. Da jovem que faz o curso de Ensino de Química e concilia com o trabalho que não lhe chega para pagar as mensalidades da sua formação. Empurra-se à universidade e os professores não acreditam tampouco na sua didática. Pedem-lhe a saia em plenária. Até porque Deus inventou o anoitecer para a cópula. Para quê andar de olhos abertos lendo livros tão fora do real quando ao fechar os olhos pode-se ter o mundo!

    Por Jorge Zamba

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    Fernando Chaúque
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    FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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