Han Kang nasceu no dia 27 de novembro de 1970, em Gwangju. Quando ainda criança, a família mudou-se para Seul, onde Kang repetiu os passos do pai, o também escritor Han Seung-wong. Estudou literatura coreana na Universidade Yonsei e passou a trabalhar para jornais e revistas.
É da mesma época a publicação de seus primeiros trabalhos literários, basicamente poemas e contos, que saíram em periódicos sul-coreanos. Um marco na obra dessa escritora sulcoreana foi a publicação, em 2007, de “A vegetariana”, romance com o qual recebeu o Man Booker Prize. Além deste romance, Han Kang publicou os títulos, já disponíveis em português: “O livro branco”, “Lições de grego” e “Atos humanos”.
É a escritora galardoada com o Prémio Nóbel da Literatura, 2024 “por sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”.
Abaixo apresentamos os 5 livros de Han Kang.
- A vegetariana
“Nunca tinha me ocorrido que minha esposa era uma pessoa especial até ela adotar o estilo de vida vegetariano”. Assim tem início o ganhador do Man Booker International Prize 2016, A vegetariana. Dividida em três partes narradas por vozes distintas, a primeira seção da novela é homônima ao livro e tem como narrador o marido de Yeonghye, mulher banal que, assaltada por sonhos tenebrosos envolvendo sangue, carne crua e labirintos assustadores, resolve parar de comer quaisquer produtos de origem animal. Sua disposição não termina aí: a protagonista também joga fora toda a comida da geladeira e passa a se esquivar do esposo para fugir do cheiro de carne que, segundo ela, exalava de seus poros.
Embora o título da obra possa causar a impressão de que sua trama tem como foco o vegetarianismo, isso não acontece. Em primeiro lugar, porque a personagem principal, quase sem voz dentro da própria história, limitando-se a narrar (provavelmente para si mesma) os sonhos que a perturbavam, jamais se autodenomina vegetariana. Esse é o título que lhe dão seus familiares, seu cônjuge, seu cunhado e sua irmã, responsáveis por relatar, respectivamente, cada um dos atos que compõem o livro. Mas a protagonista em si declara apenas que não quer mais comer carne. Ela não se classifica, não se insere em alguma categorização. Além disso, suas motivações não têm nada em comum com as que geralmente levam as pessoas ao vegetarianismo. A razão pela qual Yeonghye decide eliminar a carne de suas refeições parte de um ponto absolutamente íntimo e intransferível: seus sonhos. A gênese de seu vegetarianismo é seu próprio inconsciente.
- Actos humanos
Em 1980, por toda a Coreia do Sul, os estudantes revoltaram-se contra o fecho de universidades e a falta de liberdade de expressão. Porém, na região de Gwangju, a repressão foi tão violenta que a população acabou por se juntar ao protesto, dando origem a um dos piores massacres na história do país. Os mortos e desaparecidos ainda estão, de resto, por contabilizar.
Como lidar com a morte de alguém quando o seu corpo não aparece? Esta é a história de Dong-ho, um rapaz que não resistiu a seguir o melhor amigo até à manifestação, mas, quando ouviu os tiros, largou-lhe a mão, procurando-o agora entre os cadáveres de uma morgue improvisada. E é também a história dos que cruzaram o caminho de Dong-ho antes e depois dessa noite infame – os que caíram por terra desarmados e os que foram levados para a prisão e torturados; os que sobreviveram ao terror mas nunca mais conseguiram falar do assunto e os que, tantos anos passados, sabem, tal como Han Kang, que a história pode repetir-se a qualquer momento e que é preciso lembrar os atos brutais de que os humanos são capazes.
Este é um romance universal e moderno sobre a batalha que os fracos travam contra os fortes na luta pela justiça.
- O livro branco
Esta é uma narrativa sobre o luto e a resiliência dos seres humanos ― além de ser o livro mais pessoal de Han Kang até agora. Durante a estada em uma cidade europeia coberta pela densa neve invernal, a narradora é repentinamente tomada pela lembrança de sua irmã, que morreu recém-nascida nos braços da mãe. Ela luta com essa tragédia que definiu a vida da família, um evento que reaparece repetidamente em imagens tomadas por esta cor que evoca o luto em algumas culturas orientais: o branco do leite materno e da fralda, o branco do sal e da neve, o branco da magnólia, a pele branca da bebê como um bolinho de arroz em formato de lua. Só mesmo uma autora como Han Kang, que criou a intrincada e poética narrativa de A vegetariana, seria capaz de urdir uma grande narrativa literária a partir de uma memória tão profundamente pessoal. É por meio desse léxico que a narradora avança na releitura de sua própria história. Assim, cada capítulo recebe o nome dessas coisas brancas. E rememoram, por meio de uma prosa habilmente arquitetada, aquilo que Camões definiu como “a grande dor das coisas que passaram”. Mas sem arroubos sentimentais. Pois é com a mesma suavidade da neve que ela empreende uma viagem em direção aos sentimentos mais íntimos de uma mulher sobre si mesma. “A cada palavra que escrevia, estranhamente, meu coração se agitava. Eu queria mesmo escrever este livro e senti que o processo traria alguma mudança. Era algo de que eu precisava, como uma pomada branca para passar num machucado, como uma gaze branca para enfaixá-lo”, escreve. A beleza desse processo, ainda que frequentemente penoso para a narradora, promete tomar de assalto o leitor do início ao fim deste pequeno livro magistral.
- Lições de Grego
Esta é a história de um professor de Grego que está a perder a visão e de uma aluna que está a perder a voz. Ambos descobrem, porém, que existe uma dor ainda mais funda a uni-los: numa questão de meses, ela perdeu a mãe e a batalha pela custódia do filho; já ele ganhou o medo de perder a autonomia e o incómodo de, por ter crescido entre a Coreia do Sul e a Alemanha, estar sempre dividido entre duas culturas e duas línguas tão diferentes.
Lições de Grego fala de um homem e de uma mulher comuns que se conhecem num momento de angústia privada – a perspetiva da cegueira dele encontra-se com o silêncio dela. Mas são justamente estes handicaps que os atraem um para o outro, levando-os a encontrar uma saída da escuridão para a luz, do silêncio para a expressão.
Com uma estrutura em espiral e a sensibilidade a que Han Kang já nos habituou, o presente romance é como uma terna carta de amor à intimidade humana, um texto que desperta os nossos sentidos e reflete sobre a essência do que realmente significa estar vivo.
- I Do Not Bid Farewell
O principal tema que guiou a escrita de Han Kang em I Do Not Bid Farewell é o “amor absoluto”. O livro narra a história da romancista Gyeong-ha, que viaja para Jeju a pedido de sua amiga In-seon para resgatar um pássaro. Ao chegar, Gyeong-ha confronta o passado doloroso da família de In-seon, especialmente de sua mãe Jeong-sim, que passou décadas procurando seu irmão desaparecido após o massacre de 1948. O amor inabalável de Jeong-sim se transfere para In-seon e Gyeong-ha, moldando suas vidas, mesmo com o sofrimento envolvido.