Primeiro, é preciso dizer que um colóquio não é uma coisa coloquial nem uma coisa breve, embora possa ser divertido e encurtado no tempo se tivermos oradores com boas qualidades de oratória, escuta e que sejam bons comunicadores da ciência em que se graduaram, mas parece que esses indivíduos escasseiam, enquanto abundam os magníficos leitores de discursos previamente preparados com o único objectivo de adormecer a audiência. Mas, mesmo com esses, talvez pudéssemos encurtar o colóquio se não nos dessemos o trabalho de ler os seus currículos com mais de cem páginas – um acto obviamente panfletário – em que podemos atestar que alguns dos nossos mais qualificados professores, entre licenciaturas, mestrado e doutoramento, ganharam títulos, mas perderam qualidades.
Claro que qualquer escritor reconhece a importância de um título, mas, quem gosta mesmo de um título são as editoras e nelas, os criativos da PU-BLI-CI-DA-DE. Pouco me importa o título “Os ângulos da casa”, do livro da Hirondina Joshua. Importa mais os cómodos dessa casa e importa mais ainda a possibilidade de estender um lençol sobre uma esteira na varanda da casa. Parece-me que nisto dos títulos têm sorte os políticos, pois quando os chamam ao púlpito é sempre com a fórmula “agora temos a honra de convidar o sr. Ministro a tecer algumas palavras” ou “convidamos o sr. Ministro a proferir o discurso de abertura”. Ninguém perde tempo a dizer que o ministro foi reitor da universidade x, que tem um doutoramento na universidade de y ou z nem que disse, na televisão pública, que perto de quatro mil professores não sabem ler nem escrever, como confirma o semestre propedêutico para estudantes de países africanos de língua oficial portuguesa.
E o ministro, muito alto, com a barriga saliente e visivelmente calvo, com papéis na mão, dirige-se ao púlpito e diz que não vai proferir nenhum discurso político. Louvada iniciativa… vai, em vez disso, dar uma aula magna e deu uma aula sobre as razões de conceder às línguas bantu um estatuto político. Falou muito. E bem. Mas disse também que quer formar opinião entre a civil sociedade civil sobre o assunto da sua aula e que quer contar com o seu apoio para levar à discussão no parlamento. Um perdoado pecado, pois, como disse Cristo, ele não sabe o que diz, e como sabem todos os juristas, ele é o ministro da cultura num país das maravilhas, onde o ministro apesar de gozar de bom salário é mero “auxiliar do titular do poder executivo”.
Por Jorge Pimentel