10 Poemas do livro Possíveis Freios Para Caos, de Britos Baptista
Noite
dorme quieta
nos meus olhos
desperto
no colo do sonho
acorda manhã
sem sol
larga-me
sem pudor nenhum
do céu
caio
ao chão de mim
afinal
futuro foi ontem?
Olhos ajoelhados
nas barbas do caos
dores insónias angústias
coisas de dar tesão ao medo
como atravessar lua
com barco ardendo
nos dedos do rio?
ondas dormem
nas líquidas costas do Save
balas acordam distopia
então terra afoga-se no sangue
abutres comem seus vôos
por cima das campas
recém-nascidas
E fora
é dentro
do frio
dentro
é fora
do frio
cacimba
nos olhos
de Domingo (s)
dormem pés
do sol
no fundo
do rio
Cansado
de carregar
nas costas
mediocridade
dos homens
vento
tombou
sua cabeça
nas mãos
da vida
choraram
pés descalços
de sonhos
de céu
Homem
está sentado
numa das ruas
do ano 2035
por exemplo
lambendo raios
de lua
lá
no arido chão
do poema
a olhar retratos
de cidades
na teia do medo
penduradas
Tudo
é questão
de vírgulas
no olhar
lua
arde no suor
das mãos
silêncio
no pulmão
do sol
é sangue
correndo
nas veias
da pólvora
Nas axilas
do pássaro verde
dribla-se angústia
nos olhos do poema
gaiola
lugar onde gravitam
rugas do silêncio
nas abas do caos
mundo areia morrendo
no prolongamento
do umbigo
voa-se na vírgula
travando ira do fogo
na sintaxe do abismo
Barcos sangram
ao colo do rio
motores estradam
no corpo da água
vento sopra suor
doutras mãos feridas
ruma-se ao norte
noite esfrega fogo
nos olhos castanhos
dos barqueiros
arde céu do horizonte
tombam irmãos
na infinita escuridão
das armas
Então
lavo face
deste agora
lágrimas
deitam silêncios
nas costas
de si
choro
outras mãos
no remo
barco ao norte
dos meus rios em
preces contra sal
Sombras erguem mãos
dos cemitérios
como escapar dessas noites
ao avesso?
perfume asiático
planta túmulos sobre peso
de almas zeradas de culpa
levadas pelo assobio do vento
há sorrisos de vidro
nas arqueadas artérias da escuridão
sangra-se noites inteiras
no gordo dedo anelar
da direita mão do medo brilha
anel do abismo
Biografia do autor
Britos Baptista, moçambicano, nascido no distrito de Mocuba, na província da Zambézia, em 29 de Março de 1992. É professor. É tradutor e Intérprete Ajuramentado de Francês/Português e Vice-versa. É licenciado pela UEM (Universidade Eduardo Mondlane). É escritor e poeta. É membro da AMOJOF (Associação Moçambicana dos Jovens Francófonos) e da AEZA (Associação dos Escritores da Zambézia). É Coordenador do Clube do Livro de Quelimane. Foi um dos vencedores do concurso de Poesia Desenha-me A Tua Liberdade, em 2016. Participou na Antologia Poética Melhores Novos Poetas Africanos, em 2016 e na colectânea de poesia Desenha-me A Tua Liberdade, no mesmo ano. Foi segundo classificado, no concurso de Poesia Printemps Des Poètes, em 2019. Participou na Colectânea de Prosa 19 cartas para a covid-19, organizada pela Xitende, e publicada pela Oleba Editores, em 2020.