Recensão crítica da obra “Viagens na Minha Terra” de Almeida Garrett
Viagens na Minha Terra é o título da obra de Almeida Garrett, publicada no ano de 1883, em Lisboa, pela Imprensa Nacional. Garrett, para além de escritor, foi, também, poeta prosador e dramaturgo português. Tido ainda como fundador do teatro, legislador, e jornalista. Desse modo, torna-se percursor do romantismo português – esta que se caracteriza, segundo Silva e Aguiar (1988:360) por “tensões e contradições” que de facto vai levantado ao longo da diegese.
Apresenta um tema bastante sugestivo, pois, a palavra “Viagens” remete-nos à deslocação de um lugar para o outro, seja interna ou externa. No caso em questão, trata-se de uma descrição do que se viu ou aconteceu durante o percurso de Lisboa à Santarém, porém, não se referia à uma viagem, mas sim “Viagens”, no plural, porque as outras são psicológicas. Afinal, refere-se a sua “Terra“, Portugal, Santarém, onde vai levantando questões reflexivas supondo de vista político e social.
Assim, quanto à matéria social, destaca-se a guerra civil em Portugal e as consequências. Quando Dom Sexto morre, Dom Miguel pretendia tomar o poder. O que não se concretizou no momento, porque o mesmo já era soberano de Brazil. Foi então que D. Miguel manda a sua filha Dona Maria de oito anos de idade para Portugal. Chegado lá, ela é tutelada pelo D. Miguel, irmão de D. Pedro. Entretanto, quando queria reformular Portugal, D. Pedro, filho de D. Sexto protagoniza um golpe de estado que veio a falhar, facto que lhe fez ser exilado do País. D. Sexto, morre e assume Dona Maria o poder. De seguida, D. Miguel dá um golpe à Dona Maria e assume o poder. Pode-se relacionar este excerto com a actualidade, países que financiam Golpes de Estado, são eles que, depois de consumado o acto, beneficiam-se nas várias vertentes. Satisfazem os seus interesses. Por um lado, o povo africano, por exemplo epobrece, já o europeu ou americano, enriquece.
Supondo de vista político, refira-se que, as Viagens de Portugal para Santarém intercalam-se com a história de Joaninha. Uma moça que vivia no meio da floresta numa casa de madeira na qual vivia com a avó e o primo, Carlos – este que tinha ido lutar na guerra civil – muito a propósito ao momento no qual escreve o romance – este episódio é uma metáfora da guerra civil.
A Joaninha, vivia com a avó, Francisca e era cega. – esta personagem tipo representa a situação de Portugal. Enquanto o primo da Joaninha guerilhava, o padre, Frei Dennis – é uma alegoria do regime antigo, absolutismo – incomodava a família todas as sextas-feiras, criticando, desse modo, Carlos – que pertencia ao regime liberalista – pelo que fazia no liberalismo.
Esta narrativa é trazida, quanto ao estatuto como autor-narrador, este que vai estabelecendo uma situação de dialogismo com o leitor e a respectiva ridicularizado do leitor numa linguagem satírica. Neste sentido, parece-nos que o autor poderá ter sido o primeiro a elaborar um romance psicológico. Justificando-se na seguinte passagem: ” A minha opinião sincera e conceitosa é que o leitor deve saltar estas folhas, e passar ao capítulo seguinte, que é outra casta de capítulo.”
No segundo capítulo do livro, o autor-narrador diz: “Primeiro que tudo, a minha obra é um símbolo, é um mito.” Com esta frase o autor deixa explícito que a obra é uma ficção, mas uma ficção do real. E, por fim, é um símbolo digressivo histórico de luta para a transição do regime absolutista ao liberalista. Almeida Garrette pode ser enquadrado em duas correntes literárias, tal é o caso do Realismo e Romantismo, dado ao facto da sua obra conter elementos que correspondem às duas correntes.
Por Gil Cossa
Gil Cossa é estudante do 3⁰ ano do curso de licenciatura em Literatura Moçambicana, na Universidade Eduardo Mondlane. É formado em Literatura, Artes e Cultura dos Países Lusófonos e em Escrita e a Crítica Literária e Jornalística, pelo Centro de Língua Portuguesa-Camões. Para além disso, é Revisor Linguístico e especialista em Retórica e Poética.
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