Paul Auster: aclamado escritor americano morreu aos 77 anos. O autor morreu na terça-feira (30/05) devido a complicações do cancro do pulmão, confirmou ao Guardian a sua amiga e colega autora Jacki Lyden.

Auster ficou conhecido pela sua “ficção pós-modernista altamente estilizada e enigmática, em que os narradores raramente são confiáveis e o enredo é continuamente mutável”, escreveu a romancista Joyce Carol Oates em 2010.

As suas histórias frequentemente brincam com temas de coincidência, acaso e destino. Muitos dos seus protagonistas são escritores e a voz presente em quase todos os seus livros é autorreferencial, com personagens de romances anteriores reaparecendo mais tarde, em outros.

“Auster estabeleceu um dos nichos mais distintivos na literatura contemporânea,” escreveu o crítico Michael Dirda em 2008. “A sua voz narrativa é totalmente hipnótica. Comece um dos seus livros e, à segunda página, não pode deixar de ouvir.”

O autor nasceu em Newark, Nova Jérsia, em 1947. De acordo com Auster, a sua vida de escritor começou aos oito anos, quando perdeu a oportunidade de conseguir um autógrafo do seu herói de basebol, Willie Mays, porque nem ele nem os seus pais tinham levado um lápis para o jogo. A partir desse momento, ele levava sempre um lápis consigo. “Se houver um lápis no teu bolso, há uma boa hipótese de um dia te sentires tentado a começar a usá-lo,” escreveu num ensaio de 1995.

Enquanto fazia uma caminhada num acampamento de verão aos 14 anos, Auster testemunhou um rapaz a poucos centímetros de distância ser atingido por um raio e morrer instantaneamente – um evento que, segundo ele, “mudou absolutamente” a sua vida e sobre o qual pensava “todos os dias”. O acaso, “compreensivelmente, tornou-se um tema recorrente na sua ficção,” escreveu a crítica Laura Miller em 2017. Um incidente semelhante ocorre no romance de Auster, finalista do Booker de 2017, 4 3 2 1: uma das quatro versões do protagonista Archie Ferguson corre sob uma árvore num acampamento de verão e é morto por um ramo que cai quando um raio o atinge.

Auster estudou na Universidade de Columbia antes de se mudar para Paris no início dos anos 1970, onde trabalhou em diversos empregos, incluindo tradução, e viveu com a sua “namorada intermitente”, a escritora Lydia Davis, que conheceu na faculdade. Em 1974, regressaram aos EUA e casaram-se. Em 1977, o casal teve um filho, Daniel, mas separaram-se pouco depois.

Em janeiro de 1979, o pai de Auster, Samuel, faleceu, e o evento tornou-se a semente para o primeiro livro de memórias do escritor, A Invenção da Solidão, publicado em 1982. Nele, Auster revelou que o seu avô paterno foi baleado e morto pela sua avó, que foi absolvida por razões de insanidade. “Um rapaz não pode viver através deste tipo de coisa sem ser afetado por isso como homem,” Auster escreveu em referência ao seu pai, com quem ele se descreveu como tendo uma “relação imutável, separada um do outro em lados opostos de um muro”.

Auster teve o seu grande sucesso com a publicação, em 1985, de Cidade de Vidro, o primeiro romance da sua Trilogia de Nova Iorque. Embora os livros sejam ostensivamente histórias de mistério, Auster usou a forma para fazer perguntas existenciais sobre identidade. “Quanto mais [os detetives de Auster] perseguem a sua presa excêntrica, mais parecem realmente perseguir as Grandes Questões – as implicações da autoria, os enigmas da epistemologia, os véus e máscaras da linguagem,” escreveu o crítico e argumentista Stephen Schiff em 1987.

Auster publicou regularmente ao longo dos anos 80, 90 e 2000, escrevendo mais de uma dúzia de romances incluindo Palácio da Lua (1989), A Música do Acaso (1990), O Livro das Ilusões (2002) e Noite do Oráculo (2003). Ele também se envolveu no cinema, escrevendo o argumento para Smoke, dirigido por Wayne Wang, pelo qual ganhou o prémio Independent Spirit de melhor primeiro argumento em 1995.

Em 1981, Auster conheceu a escritora Siri Hustvedt e casaram-se no ano seguinte. Em 1987 tiveram uma filha, Sophie, que se tornou cantora e atriz. O romance de Auster de 1992, Leviatã, sobre um homem que se faz explodir acidentalmente, apresenta uma personagem chamada Iris Vegan, que é a heroína do primeiro romance de Hustvedt, De olhos Vendados.

Auster era mais conhecido na Europa do que nos Estados Unidos: “Apenas um autor best-seller nestas partes,” lê-se num artigo de 2007 da revista New York, “Auster é uma estrela do rock em Paris.” Em 2006, recebeu o prémio Príncipe das Astúrias de literatura em Espanha, e em 1993 recebeu o prémio Prix Médicis Étranger pelo Leviatã. Também foi nomeado Comandante da Ordem das Artes e Letras.

Em abril de 2022, o filho de Auster e Davis, Daniel, faleceu de overdose. Em março de 2023, Hustvedt revelou que Auster estava a ser tratado a um cancro depois de ter sido diagnosticado no ano anterior. O seu último romance, Baumgartner, sobre um escritor septuagenário viúvo, foi publicado em outubro de 2023.

Paul Auster morreu aos 77 anos.

10 livros de Paul Auster (e por onde começar a ler este autor)

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FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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