Quarta-feira, Dezembro 4

Morfologia: ramos da morfologia, Sintaxe

A língua é um sistema complexo, passível de ser abordado, portanto, de muitos ângulos, o que lhe possibilita segmentações diversas e enfoques distintos de investiga­ção. A Sintaxe, a Morfologia e a Fonética e Fonologia, entre outras, são ciências que têm como objectivo o estudo da língua e sua funcionalidade, com objectos de estudos diferentes, quais sejam o sistema sintáctico, o sistema mórfico e os sistemas fónico e fonológico, respectivamente.

Na verdade, entre os diferentes níveis de análise linguística, que vão desde as unidades mais amplas do discurso, como as frases e as partes que a compõem, ate as unidades menores, como os sons e as sílabas, há um nível intermediário que visa estudar as unidades da língua que apresentam certa autonomia formal, representadas concretamente pelas entradas lexicais nos dicionários, isto é, as palavras. Também e parte desse mesmo nível de análise o estudo das unidades de sentido que compõem as palavras. Trata-se do nível morfológico.

Neste trabalho abordaremos morfologia e a sintaxe da língua portuguesa com o intuito de compreender os seus parâmetros e regras que se impõem na formação de palavras e frases. Apresentaremos as definições destas duas áreas e iremos descrever os seus objectos de estudo.

Este trabalho foi elaborado com base na pesquisa bibliográfica e tomamos como referência MONTEIRO (1993) que aborda a Morfologia da língua portuguesa, MACAMBIRA (1993) que versa em torno da estrutura morfossintáctica do Português, ZANOTTO (2006) que também aborda a estrutura mórfica da língua portuguesa, e CAMARA (1973) que destaca os aspectos sobre Estrutura das palavras da língua portuguesa.

  1. Morfologia

MONTEIRO (2002) afirma que o termo morfologia foi inicialmente empregado nas ciências da natureza, como a botânica e a geologia. Na constituição do termo morfologia encontram-se os elementos [morf(o)] e [logia], do gr. Morphe = “forma” e logia = “estudo”. Em estudos linguísticos, morfologia é a parte da gramática que descreve a forma das palavras. Ou ainda: “morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras”.

A morfologia pode ser definida como “o estudo dos morfemas e seus arranjos na formação das palavras”. Como se depreende das definições acima, saber de que se ocupa a morfologia implica saber o que se entende por forma, tomada como sinónimo de estrutura, cujas partes são os morfemas.

A Morfologia divide as palavras por propriedades que são próprias ou exclusivas de determinado grupo delas e levantar o possível rol de suas flexões; classificar as palavras de acordo com os critérios morfológico ou formal, semân­tico e sintático ou funcional; explicar como a concordância se realiza, quais os meios e que tipos de flexões são utilizados; explica como a regência se realiza, isto é, com ou sem preposição ou com flexões de caso, como no latim e no alemão; faz o levantamento das flexões de gênero e número das palavras; explica as mudanças de sentido das palavras em determinado contexto; explicar a origem das palavras e os seus processos de derivação; explica os morfemas; distingue sufixo derivacional e sufixo flexional (ZANOTTO:2006).

1.1 Ramos da Morfologia

A Morfologia divide-se em dois ramos: a morfologia flexional e a morfologia lexical. A morfologia flexional (ou gramatical) estuda as relações entre as diferentes formas de uma mesma palavra, isto é, o seu paradigma flexional. Como a flexão é uma variação de carácter morfossintáctico, interessa à morfologia flexional explicar como a concordância se realiza, quais os meios e que tipos de flexões são utilizados (SANDMANN:1991).

  1. a) A Morfologia Flexional não altera categorias. Ela estabelece liga­ções entre as palavras. Assim, na frase eu falo, o morfema o mostra que o sujeito da sentença é primeira pessoa. Na frase Os macacos caíram da árvore, o plural no artigo, s, indica que o núcleo do sintagma nominal é plural, e o morfema m indica que o sujeito da sentença é terceira pessoa do plural. Assim, a Morfologia Flexional acena para a Sintaxe, ficando difícil de aceitar a sua não-relevância para a Sintaxe;
  2. b) A Morfologia Flexional é produtiva. Assim, qualquer verbo pode ser marcado por um morfema indicando terceira pessoa do plural e qualquer artigo pode ser pluralizado. Excepções são muito raras, enquanto excepções no paradigma derivacional são muito frequentes (MONTEIRO, 2002).

Diferentemente da morfologia flexional, a morfologia lexical trata da estrutura das palavras e dos seus processos de formação; das relações entre paradigmas diferentes. Assim, interessa à morfologia lexical explicar, por exemplo, como os pares amor/amoro­so, nobre/nobreza se relacionam derivacionalmente. Portanto, é tarefa da morfologia lexical explicar que amoroso deriva de amor por meio do sufixo derivacional –oso e que nobreza deriva de nobre por meio do sufixo -eza. São as seguintes as propriedades da morfologia derivacional:

  1. a) A Morfologia Derivacional tem a característica de alterar a categoria gramatical de uma palavra. Assim, em nosso exemplo nacionalização, trabalhamos com vários morfemas derivacionais. Vimos a transformação de um substantivo em adjectivo, deste adjectivo em verbo e, finalmente, deste verbo em substantivo novamente. Caso a categoria não seja alterada pela adição de um morfema deriva­cional, um novo traço de significado que pode ser parafraseado por uma palavra independente é adicionado. Por exemplo, se adicionarmos re ao verbo fazer, temos fazer de novo.
  2. b) A Morfologia Derivacional não é produtiva, isto é, não é qualquer mor­fema derivacional que pode ser adicionado a qualquer raiz. Morfemas derivacionais têm muitas restrições de co-ocorrência; assim, podemos adicionar o morfema iz ao substantivo hospital e criar hospitalizar, mas não podemos adicioná-lo ao substantivo clínica e criar clinizar. Devemos dizer clinicar; devemos memorizar que podemos dizer hospitalizar e não podemos dizer Este é um argumento para acreditar­-se que a Morfologia Derivacional é um fenómeno lexical, uma vez que o léxico é visto neste modelo como um receptáculo de irregularidades e memorizações (SANDALO, 2001).

Alguns exemplos: em português uma palavra como meninos pode ser segmentada em 3 morfes, cada um dos quais carrega um significado: {menin} carrega o significado lexical; {o} carrega o significado de género masculino; {s} carrega o significado de número plural. Nesse caso cada forma, ou seja cada morfe, carrega um único significado.

Portanto é importante distinguir a noção de morfema (o significado abstracto que é carregado por uma forma) e a noção de morfe, a forma segmentável de uma palavra que carrega m ou mais significados. Mas acontece também o contrário, ou seja que um mesmo morfema, um mesmo significado, pode ser representado com mais de uma forma. Em português isso é muito evidente no significado {plural}. Nós não podemos dizer que o morfe do plural é sempre {s}, porque o plural de mar é mares, o plural de caracol é caracois, o plural de caminhão é caminhões. Tanto {s}, quanto {es}, quanto {is}, quanto {ões} e mais formas ainda são morfes do mesmo morfema {plural}. Quando vários morfes são realizações concretas do mesmo morfema, são chamados de alomorfes (SANDALO:2001).

2. Sintaxe

Macambira (1993) afirma que a sintaxe estuda a combinação de palavras ou sintagmas para formar frases, bem como a função dessas palavras ou sintagmas dentro da frase. Da mesma for­ma, a morfologia estuda, por exemplo, a combinação de radicais com flexões ou de bases com afixos ou, ainda, de mais de uma base para formar compostos, produzindo palavras flexionadas ou complexas. Em todos esses processos tem-se um combinar, um pôr junto unidades menores para formar unidades maiores.

Ora, não se confundir classe com função. O nome, o pronome e o verbo… são classes; o substantivo, o adjectivo e o advérbio são funções. Quer dizer, as classes são estudadas dentro da morfologia, as funções pertencem ao domínio da sintaxe.

Substantivo

É substantivo toda palavra que se deixar preceder por artigo ou pronome adjectivo, especialmente possessivo, demonstrativo ou indefinido”.

Adjectivo é a palavra que expressa qualidade. Mas nem todos os adjectivos expressam qualidade, como é o caso de feio, morto, burro, ignorante, etc. Além disso, bondade exprime qualidade e não é um adjectivo.

Macambira (1993:37) diz que, sob o aspecto sintáctico, “pertence à classe do adjectivo toda palavra variável que em frases se deixar pre­ceder pelos advérbios correlativos tão ou quão, de preferência o primeiro.

É inútil acrescentar essas noções, porque o adjectivo não se caracteriza pelo sentido, sendo na realidade uma função. Não interessa muito o significado que a palavra tem para o caso. Ela pode indicar qualidade e funcionar como substantivo (beleza, o belo) ou então como adjectivo (belo quadro). Inversamente, às vezes não expressa qualidade e tem a função de adjectivo (Monteiro:1991).

Pronome é a palavra variável em género, número e pessoa que representa ou acompanha o substantivo, indicando-o como pessoa do discurso. Essa é uma definição morfo-sintático-semântica limitada apenas a alguns tipos de pronomes. O que define mesmo os pronomes é o sentido dêitico ou anafórico.

Sob o aspecto sintáctico, o pronome divide-se em duas classes: o pronome substantivo, que não se articula com o substantivo, e o pronome adjectivo, que se articula com o substantivo, à semelhança do adjectivo

Artigo é a palavra acessória que particulariza ou generaliza sob o aspecto sintáctico, os artigos são formas presas, que, mediata ou imediatamente, precedem o substantivo. A precedência é imediata quando não figura outra palavra entre o artigo e o substantivo (o garoto); é mediata quando outra palavra se intercala entre o artigo e o substantivo (o meu garoto).

Macambira considera que não basta indicar número para pertencer à classe do numeral: vé preciso combinar-se imediatamente com o substantivo, à imitação do artigo, do pronome e do adjectivo”.

Verbo é a palavra que exprime acção, fenómeno ou estado. Essa definição tradicional, amparada no critério semântico, só tem valor se for encarada na perspectiva do tempo. O verbo, então, é a palavra que indica processo, isto é, aquilo que se passa, naturalmente aquilo que se passa no tempo. Em suma, O verbo indica os proces­sos, quer se trate de acções, estados ou passagens dum estado para o outro.

Advérbio

Em relação ao aspecto sintáctico, Macambira (1993) diz que advérbios são palavras invariáveis que se articulam com os advérbios tão, quão ou bem (tão depressa, quão depressa, bem depressa); ou ainda, são formas invariáveis e livres que funcionam como terceiro elemento dentro da seguinte forma composta de pronome subjectivo e verbo intransitivo, como nos exemplos do autor:

  1. a) Eu trabalho sempre; eu demorei muito; eu pouco demorei;
  2. b) Tu sempre concordas; eu dormi; tu quase ficavas;
  3. c) Eu nunca voltarei; aqui nós pernoitamos; ele mora ;
  4. d) Vós sorrireis então; talvez eles concordem; eu falo devagar.

Preposição é palavra conectiva. Esta é uma definição sintáctica, pois supõe grupo. Como a preposição não tem flexões em português, não pode ser classificada sob o aspecto mórfico. Ela só pode ser classificada pelos critérios sintácticos e semânticos (Ma­cambira:1993).

Interjeição é a palavra invariável por meio da qual exprimimos nossas emoções. A interjeição é uma frase.

As interjeições não são vocábulos porque a) não se constituindo de morfemas, desconhecem a 1ª articulação; b) apresentam apenas a 2ª articulação (fonológica) e ainda assim em configurações estranhas à língua. É, na verdade, um tipo rudimentar de frase: a) sem estrutura mórfica ou sintáctica; b) com entonação que determina as diversas modalidades:

  • interrogativa: hem?
  • exclamativa: epa!
  • imperativa: pst!
  • negativa: hum-hum

Bibliografia

 

MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfo-sintática do Português. 7. ed. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1993.

MACAMBIRA, José Rebouças. A estrutura morfo-sintática do português. Fortaleza, Imprensa Universitária, 1970.

MONTEIRO, José Lemos. Morfologia Portuguesa. 3. ed. Campinas, SP: Pontes, 1991.
SANDALO, Maria Filomena Spatti. Morfologia. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina (org.). Introdução à lingüística, domínios e fronteiras. v.1. São Paulo: Cortez, 2001.

SANDMANN, Antônio José. Morfologia Geral. São Paulo: Contexto, 1991.

ZANOTTO, Normelio. Estrutura mórfica da língua portuguesa. 5. ed. Rio de Janeiro, RJ: Lucerna; Caxias do Sul: Educs, 2006.

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FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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