Céu azul. Reina o sol. Fogo dentro dos ossos. Tiro o casaco. É agora dispensável, diferente de quando saí de casa; fazia um friozinho pontiagudo. Escrevo. Escrevo para mim. Para o presente. Para todos os tempos. Para imortalizar o fogo deste instante. Invoco o futuro para dentro desta página enquanto espero despegar às 15 e 30. O futuro nasce incolor. Cada um pinta-o, a seu gosto. Futuro que fui obrigado a pintar com sangue: trabalhar das 7 e 30 às 15 e 30.

17.05.2023. O mundo grita. Em todas as línguas. São gritos de todas as cores. Há especulação de preços no mercado do Zimpeto. Saquinho de cebola custa 750 mt. Subiu acima de 60%. Mais carvão para o fogo do estômago. Dizem que as machambas da África do Sul ficaram alagas e toda a cebola apodreceu. Por isso a subida. Verdade? E as nossas machambas aqui na Pérola do Índico? Eis a sina dos moçambicanos: dependência eterna. Céus!!

“Muatala exige mais acção policial.” Justamente hoje, o dia em que se comemoram os 48 anos da criação da corporação. Um grupo de polícias fardados passa em marcha e aos berros pela rua. Eis a comemoração. Em movimento. Ritmo e fogo dentro dos ossos. Sangue em ebulição.

“Leis do Caju e de Investimento vão a debate na especialidade”. Neste país, o que mais existe são leis. Cada dia são promulgadas e revistas novas leis. Somos um país de leis. O mau é que elas não são cumpridas; principalmente pelos que as concebem. Muitas vezes, essas leis, só são invocadas quando é para punir um cidadão comum. Entre os camaradas não há lei nenhuma a não ser a própria camaradagem. Na verdade, a camaradagem está acima de todas as leis.

“Colisão entre barco e hipopótamo faz um morto e 23 desaparecidos no Malawi”. Desastre sobrenatural.

“Nyusi garante que já estão criadas condições para conclusão do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração”. Será que este DDR algum dia terá o desfecho desejado?

“Moçambique recebe um milhão de dólares para combater a malária no contexto do ciclone Freddy”. Mais capim para os cabritos que comem onde estão amarrados, dizem os comentários.

“Ucrânia diz ter abatido mísseis hipersónicos russos pela primeira vez; mísseis balísticos que atingem até dez vezes a velocidade do som estavam entre uma série de 18 que a Rússia disparou contra a Ucrânia durante a noite.” Fogo! Fogo! Fogo! E “França promete tanques e veículos blindados à Ucrânia”. Até quando este fogo? Bob Marley responde: “until the basic human rights are equally guaranteed to all, without regard to race, dis a war”.

“Os 4 jovens que colocaram a placa ˗ Rua Azagaia ˗ em Khongolote, foram recolhidos pela PRM e a mesma foi removida pelos agentes”. Justamente hoje, o dia em que se comemoram os 48 anos de criação da corporação.

Apesar de toda a lufa-lufa, o céu continua azul e o sol sorridente. E tudo isto é fogo dentro dos ossos.

Por Fernando Absalão Chaúque

In “Diário”

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FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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