Quinta-feira, Novembro 21

 O cenário literário moçambicano, em 2023, foi, mais uma vez, abrilhantado com novas obras de prosa literária que, numa variedade de estilos e géneros, abordam temas como as disparidades sociais, a guerra colonial, a história moçambicana e a intricada teia das relações familiares. Cada autor, com sua voz, contribuiu para uma tapeçaria literária vibrante, proporcionando aos leitores uma oportunidade envolvente de explorar as múltiplas facetas da cultura e sociedade moçambicanas. Estas 11 obras não só reflectem a riqueza da literatura contemporânea, mas também destacam a vitalidade e a diversidade de vozes que moldam a narrativa literária do país. Eis os 11 Livros de Prosa Literária Moçambicana para ler em 2024. Que estas obras continuem a inspirar, desafiar e encantar os leitores ao longo de 2024 e além.

  1. Assim não, Senhor Presidente – Ungulani Ba Ka Khosa

O escritor Ungulani Ba Ka Khosa lançou, em Outubro de 2023, a sua mais recente obra literária intitulada “Assim não, Senhor Presidente”. Neste romance de 204 páginas, o autor aborda histórias que exploram as disparidades sociais, reflectindo sobre a realidade moçambicana em termos de empatia e relações sociais. As vozes das diferentes personagens da obra são uma expressão da intenção de Ba Ka Khosa em narrar as diferenças sociais presentes no contexto moçambicano.

Em outras palavras, trata-se de um romance em que, mais uma vez, Ungulani mergulha nas questões históricas desde os princípios da construção de Moçambique como país, desmistifica certas questões e apresenta os heróis como meros humanos. A sua narrativa desenvolve-se, de forma contínua, até aos dias actuais.

Ao longo de mais de 30 anos de carreira literária, o autor, que também foi professor de História e Geografia, publicou diversas obras notáveis. Entre elas estão “Ualalapi” (1987), vencedor do grande prémio de ficção moçambicana em 1990, e “Os Sobreviventes da Noite” (2007), que lhe conferiu o Prémio José Craveirinha de Literatura. Além de romances como “Choriro” (2009) e “Gungunhana” (2018). Ungulani também explorou contos infanto-juvenis, como “O Rei Mocho” (2013). O autor recebeu reconhecimento ao longo dos anos, incluindo o Prémio José Craveirinha em 2018. Sua vasta contribuição para a literatura moçambicana é evidente em obras como “Entre as Memórias Silenciadas” (2013), que recebeu o Prémio BCI de Literatura.

“Assim não, senhor presidente” pode ser adquirido nas várias livrarias do país ou contactando a Alcance Editores.

  1. A Hora Maconde – Marcelo Panguana

Lançado em Outubro de 2023, em Maputo, “A Hora Maconde” oferece uma intensa exploração das batalhas travadas durante a guerra colonial. Focalizando especialmente o período em que os guerrilheiros moçambicanos, conhecidos como ‘turras’, conduziram ataques aos destacamentos militares portugueses em Cabo Delgado. A narrativa desvela eventos que ocorreram ao cair da tarde nas imponentes florestas da região. Este momento tenso, conhecido como “A Hora Maconde”, patenteia o papel crucial desempenhado pelo grupo étnico Maconde na luta pela libertação de Moçambique.

Durante “A Hora Maconde”, a vida pendia por um fio, com os soldados em constante alerta, olhos fixos no horizonte e dedos prontos no gatilho. A narrativa não apenas aborda a realidade histórica, mas também incorpora elementos de ficção, criatividade e contação de histórias para proporcionar uma perspectiva única sobre a guerra de libertação.

Publicado sob a chancela da Alcance Editores, o livro proporciona uma imersão profunda nesse capítulo crucial da história moçambicana.

Marcelo Panguana, escritor e jornalista moçambicano, nasceu em 30 de Março de 1951, em Lourenço Marques, actual Maputo. Reconhecido por obras anteriores, como “As Vozes Que Falam Verdade” e “A Balada dos Deuses”, Panguana recebeu o Prémio de Literatura José Craveirinha em 2023, um prestigioso reconhecimento na cena literária moçambicana.

É ainda autor das publicações “O Chão das Coisas”, de 2004, “Os ossos de Ngungunhana”, de 2006, “Como um louco ao fim da tarde”, de 2010, “Conversas do fim do mundo”, de 2012, e “O vagabundo da pátria”, de 2016.

Este livro pode ser adquirido nas várias livrarias do país ou contactando a Alcance Editores.

3. Compêndio para Desenterrar Nuvens – Mia Couto

“Compêndio para Desenterrar Nuvens” é o novo livro de contos de Mia Couto, publicado em Moçambique sob a chancela da Fundação Fernando Leite Couto e em Portugal pela Caminho.

Este livro consiste em uma compilação de contos, inicialmente apresentados na revista VISÃO. Segundo o autor, antes mesmo de serem escritas, essas histórias eram entidades que se manifestavam nos sonhos e nas experiências quotidiana. Essas narrativas transitam entre a realidade e a imaginação, ocupando territórios quase imperceptíveis ao considerarmos o contexto moçambicano, rico em diversas histórias.

Numa visão geral, neste livro, Couto traz à tona personagens e cenários improváveis, envoltos em sua característica poeticidade, proporcionando uma narrativa que permite ao leitor alçar voo para um universo em que todas as coisas possuem vida própria.

Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, em 1955. Foi jornalista e professor, e é, actualmente, biólogo e escritor. Está traduzido em diversas línguas. Em 2013 foi galardoado com o Prémio Camões.

Este livro pode ser adquirido nos estabelecimentos da Fundação Fernando Leite Couto e noutras livrarias do país.

  1. Como cavalos e sombras a levitar – Mélio Tinga

Depois do seu primeiro romance, Marizza, galardoado com o Prémio Literário Imprensa-Nacional Casa da Moeda/ Eugénio Lisboa 2020, em 2023, Tinga lançou pelas editoras Exclamação e Cavalo do Mar o seu segundo romance intitulado “Como cavalos e sombras a levitar”.

Este livro é parte do conjunto de três livros que compõem a colecção ARREMESSOS: “Câncer” (poesia), de David Bene; “Como sombras e cavalos a levitar” (romance), de Mélio Tinga; e “O alguidar que chora ou a história das pedras que falam” (teatro), de Venâncio Calisto.

Neste livro, o leitor é convidado a confrontar-se com uma escrita com pendor autoficcional, em que o registo discursivo é ligado a uma dimensão do real, fazendo o percurso de um narrador/personagem em modo de aprendizagem, a partir do enredo de uma separação, e que reflecte sobre impossibilidade de encarar o amor sem o seu reverso de morte, ou a inocência sem a noção de decadência, numa espécie de conhecimento do que podemos designar como ensaio sobre o inferno.

Mélio Tinga é escritor de ficção e designer de comunicação. É autor de seis livros. Para além de Moçambique, seus livros estão também publicados em Portugal e no Brasil.

Este romance pode ser adquirido entrando em contacto com as editoras Exclamação e Cavalo do Mar ou contactando o autor: 844846486.

5. Estórias trazidas pela ventaniaAdelino Albano Luís

Estórias trazidas pela ventania” é o segundo livro de Adelino Albano Luís, que se estreou com “Cronicontos da Cabeça do velho”.

Este livro é composto por 25 contos, que, usando uma linguagem simples e coloquial, retrata diversos acontecimentos de fórum social e privado. Por isso mesmo, enquanto lê, o leitor depara-se, não raras vezes, com situações facilmente denotáveis com a realidade de Moçambique.

Ao longo dos enredos dos contos, casas se movem por si mesmas; um natal é comemorado na lixeira; há um sequestro sem um sequestrado; uma psicóloga que precisa ser consolada pela paciente ou um Eusébio que não quer saber de futebol.

Adelino Albano Luís nasceu em 1998, na Cidade de Chimoio. Licenciado em Filosofia pela UEM, é professor e o conto é seu género literário de eleição. Estreou-se com obra “Cronicontos da Cabeça do Velho” (2022), prémio literário Calane da Silva/Alcance Editores (4ª edição – 2021). Conquistou o primeiro lugar do Concurso de Crónicas da 1ª edição da Feira do Livro da Beira (2021); Conquistou o primeiro lugar do concurso literário Dia Mundial da Língua Portuguesa: estórias pandémicas, e foi finalista do prémio Fundação Fernando Leite Couto (2022), com a obra “Estórias trazidas pela Ventania”. Participou em várias antologias, dentre as quais o volume I de Espíritos Quânticos – Diário de uma Quawwi.

Este livro está disponível nas livrarias do país e especialmente na Beira, na livraria Fundza.

  1. Os Lobos: uma família goesa – Álvaro Carmo Vaz

Álvaro Carmo Vaz, depois de “Um rapaz tranquilo” e “Aqui há ópera”, lançou em 2023 a obra “Os Lobos: uma família goesa”.

Em geral, o livro traz Caetano Lobo, um jovem goês que emigra para Moçambique, nos anos 40 do século XX, com a ambição de fazer fortuna. Depois de trabalhar para uma companhia agrária da Zambézia, estabelece-se por conta própria em Quelimane, com a ajuda da mulher e do dote que esta lhe traz.

Na sequência, Caetano Lobo prospera, faz filhos e adora a mais nova, chamada Aurora. Algum tempo depois, a família muda-se para Lourenço Marques e continua a enriquecer. Caetano Lobo, brâmane, mantém o preconceito trazido de Goa, contra pessoas de castas consideradas inferiores, particularmente os sudras, o que o leva a rejeitar o convívio com uma família goesa, os Xavier. Quando a Aurora e o jovem Bruno Xavier se apaixonam, ocorre a tragédia que marca as duas famílias.

Esta obra pode ser adquirida nas livrarias da cidade de Maputo, noutras províncias, ou entrando em contacto com a editora da mesma, Alcance editores.

 7. Zero Sobre Zero – O Espião que veio de Kigali – Aurélio Furdela

Eis que, com “Zero Sobre Zero”, Furdela estreia-se no mundo dos policiais, posto a circular nos últimos meses de 2023.

Sobre o livro, Pagarache afirma que “Zero Sobre Zero” compromete-se, do seu início ao fim, a tratar de uma investigação criminal. Todos os seus personagens estão directa ou indirectamente ligados aos assassinatos em investigação. Qualquer recurso à analepse tem por propósito explicar ou consubstanciar os eventos do presente da narrativa, e não de desenvolver uma outra linha temática distanciada do assunto criminal em pauta no romance. Ou seja, o narrador não mostra nenhum interesse em dar destaque a temas que não estejam ligados ao crime.

A sinopse do livro diz: “Dois departamentos moçambicanos de Investigação Criminal, um actuando de forma confidencial e discreta, o DEOPE, e o outro actuando de forma publicamente identificada, o SERNIC, cruzam-se, chocam-se, na resolução de um crime. As razões dessa tensão são óbvias: ninguém conhece o DEOPE, nem o leitor, nem o SERNIC, e isso torna aquele Departamento suspeito aos olhos do SERNIC.”

O livro pode ser adquirido na Livraria Escolar Editora, em Maputo, ou entrando em contacto com o autor, AQUI.

  1. Sopro – Nelson Lineu

Depois de “O Passo Certo no Caminho Errado”, livro de crónicas lançado em 2020, no último trimestre de 2023, Lineu brindou os seus leitores com mais uma obra, desta vez, um conjunto de contos intitulado “Sopro”.

Neste livro, Nelson Lineu constrói sua narrativa a partir de observações sociais, explorando temas como corrupção, custo de vida e trabalho infantil. Ele aborda o que percebe como a falta de um sonho moçambicano, destacando a dicotomia entre individualismo e coletivismo, assim como a supremacia de certos grupos sobre outros, considerando-os como consequências do mal-estar no país, não suas causas.

Portanto, Lineu utiliza a realidade como suporte para a ficção, buscando convencer o leitor por meio de fatos que conferem verosimilhança à narrativa. O Professor de Literatura e Crítico Literário Albino Macuácua destaca a “condição prosaica” das personagens, moldada a partir de episódios cotidianos misturados com elementos místicos, culminando em desfechos surpreendentes e inimagináveis.

“Sopro” é o quarto trabalho literário de Nelson Lineu, sucedendo “O Passo Certo no Caminho Errado” (Literatas – Crónicas – 2020), “Asas da Água” (TPC – Poesia – 2019) e “Cada Um em Mim” (Poesia – 2014).

O livro pode ser adquirido nas livrarias de Maputo, na Beira, Fundza, ou contactando o autor: AQUI.

 

  1. Kwashala blues – Jessemusse Cacinda

O jornalista e filósofo Jessemusse Cacinda estreia-se na prosa narrativa com o livro “Kwashala Blues”, contudo já era um cultor da crónica que roçava o território ficcional. “Kwashala” é seu primeiro livro, no qual os géneros se misturam e encontram uma outra via da escrita num realismo mágico com fortes inspirações na oralidade e cultura popular. “Kwashala Blues”, editado pela Ethale Publishing, junta a crónica, o conto e o romance num só livro.

A professora e ensaísta brasileira da Universidade Federal da Paraíba, Vanessa Pinheiro, após ter lido, entendeu que “Kwashala Blues revela camadas interpretativas que o leitor descobre aos poucos, embevecido. O leitmotiv é a morte do pai do protagonista, que desencadeia memórias afectivas narradas em curtos relatos. Estes relatos são sintetizados por Cacinda pela metáfora musical do ritmo popular moçambicano kwashala que, assim como a vida mimetizada na trama, tem oscilações e nuances.”

Jessemusse Cacinda nasceu em Nampula, Moçambique. É co-fundador da editora Ethale Publishing, vocacionada na promoção da literatura e do pensamento africano. Foi jornalista na Rádio Moçambique, onde venceu o prémio “Qualidade” nas categorias, “Melhor Crónica” (2012) e “Melhor Reportagem Temática” (2013) e Co-Director do Festival Fim do Caminho (Nampula, Moçambique). Coordenou várias antologias. Trabalha como redactor de radionovelas, documentários, reportagens, relatórios e manuais. Estudou Filosofia, Jornalismo, Sociologia do Desenvolvimento e Gestão de Projectos.

Este livro pode ser adquirido contactando a Ethale Publishing.

  1. Kushoto-Kulia – Daniel da Costa

Daniel da Costa apresentou ao público o seu mais recente livro de contos intitulado “Kushoto-Kulia”, editado pela Fundza. Composto por 14 histórias, o livro explora a jornada do autor por um período que lança luz sobre as complexidades sociais de um país em constante transformação. Entre os contos destacam-se “Contas de Família”, “O Brinquedo dos Generais”, “A Cama Perfeita”, “A Fúria do Dragão”, “Os Fuzileiros” e “O Petisco”.

Na introdução da obra, Daniel da Costa expressa sua intenção de prestar homenagem a uma época marcada pela influência militar, utilizando simbolicamente a expressão em língua swahili no título, nas palavras da dedicatória e na numeração dos conteúdos do livro.

Ao explorar o passado do seu país, “Kushoto-Kulia” de Daniel da Costa estabelece equilíbrios harmoniosos entre a ficção e a crónica. Na primeira categoria, destaca-se o efeito estético e imprevisível das histórias, enquanto na segunda, prevalece a verossimilhança e o diálogo com a realidade que o autor considera marcada pela influência militar.

Nascido em Tete em 1964, Daniel da Costa iniciou sua carreira no jornalismo em 1987, trabalhando como repórter na então Televisão Experimental de Moçambique e como produtor de programas na Rádio Moçambique. Além disso, dedicou-se à crítica de teatro e literatura.

Kushoto-Kulia” pode ser adquirido nas livrarias do país especialmente na livraria Fundza, na Beira.

 

  1. Um Herói Que Não Existe – Zaiby Manasse

Um herói que não existe” é um romance policial publicado sob a chancela da Editora Kulera. Esta obra tem 224 páginas e 12 capítulos e é uma narrativa que transporta o leitor para um mundo alternativo criado pelo estado de coma no subconsciente de Omatac que, na tentativa fracassada de salvar uma menina de raptores é baleado e fica em coma por três meses, período que o permite construir e remodelar um mundo alternativo em Womelo, onde narra-se a busca policial por uma heroína misteriosa que surge para combater a onda de raptos, assassinando os raptores com recursos a métodos medievais.

Zaiby Husay Gulamo Manasse, também conhecido como Aldino O diferente, é um poeta e prosador, licenciado em Medicina Geral pela Faculdade de Ciências de Saúde da Universidade Lúrio, em Nampula. Publicou “O mel do meu passado presente” (2013) e “Devaneios ensanguentados pela globalização” (2014).

O livro pode ser adquirido através da Editora Kulera

12 livros de poesia moçambicana lançados em 2023 para ler em 2024

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FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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