Quinta-feira, Novembro 21

10 Poemas do livro Possíveis Freios Para Caos, de Britos Baptista

Noite

dorme quieta

nos meus olhos

desperto

no colo do sonho

acorda manhã

sem sol

larga-me

sem pudor nenhum

do céu

caio

ao chão de mim

afinal

futuro foi ontem?

 

Olhos ajoelhados

nas barbas do caos

dores insónias angústias

coisas de dar tesão ao medo

como atravessar lua

com barco ardendo

nos dedos do rio?

ondas dormem

nas líquidas costas do Save

balas acordam distopia

então terra afoga-se no sangue

abutres comem seus vôos

por cima das campas

recém-nascidas

 

E fora

é dentro

do frio

dentro

é fora

do frio

cacimba

nos olhos

de Domingo (s)

dormem pés

do sol

no fundo

do rio

 

Cansado

de carregar

nas costas

mediocridade

dos homens

vento

tombou

sua cabeça

nas mãos

da vida

choraram

pés descalços

de sonhos

de céu

 

Homem

está sentado

numa das ruas

do ano 2035

por exemplo

lambendo raios

de lua

no arido chão

do poema

a olhar  retratos

de cidades

na teia do medo

penduradas

 

Tudo

é questão

de vírgulas

no olhar

lua

arde no suor

das mãos

silêncio

no pulmão

do sol

é sangue

correndo

nas veias

da pólvora

 

Nas axilas

do pássaro verde

dribla-se angústia

nos olhos do poema

gaiola

lugar onde gravitam

rugas do silêncio

nas abas do caos

mundo areia morrendo

no prolongamento

do umbigo

voa-se na vírgula

travando ira do fogo

na sintaxe do abismo

 

Barcos sangram

ao colo do rio

motores estradam

no corpo da água

vento sopra suor

doutras mãos feridas

ruma-se ao norte

noite esfrega fogo

nos olhos castanhos

dos barqueiros

arde céu do horizonte

tombam irmãos

na infinita escuridão

das armas

 

Então

lavo face

deste agora

lágrimas

deitam silêncios

nas costas

de si

choro

outras mãos

no remo

barco ao norte

dos meus rios em

preces contra sal

 

Sombras erguem mãos

dos cemitérios

como escapar dessas noites

ao avesso?

perfume asiático

planta túmulos sobre peso

de almas zeradas de culpa

levadas pelo assobio do vento

há sorrisos de vidro

nas arqueadas artérias da escuridão

sangra-se noites inteiras

no gordo dedo anelar

da direita mão do medo brilha

anel do abismo

 

Biografia do autor

Britos Baptista, moçambicano, nascido no distrito de Mocuba, na província da Zambézia, em 29 de Março de 1992. É professor. É tradutor e Intérprete Ajuramentado de Francês/Português e Vice-versa. É licenciado pela UEM (Universidade Eduardo Mondlane). É escritor e poeta. É membro da AMOJOF (Associação Moçambicana dos Jovens Francófonos) e da AEZA (Associação dos Escritores da Zambézia). É Coordenador do Clube do Livro de Quelimane. Foi um dos vencedores do concurso de Poesia Desenha-me A Tua Liberdade, em 2016. Participou na Antologia Poética Melhores Novos Poetas Africanos, em 2016 e na colectânea de poesia Desenha-me A Tua Liberdade, no mesmo ano. Foi segundo classificado, no concurso de Poesia Printemps Des Poètes, em 2019. Participou na Colectânea de Prosa 19 cartas para a covid-19, organizada pela Xitende, e publicada pela Oleba Editores, em 2020.

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FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

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