Em seu repouso eterno, ele continua nos tímpanos do regime que em vida combateu. Azagaia faz-nos lembrar que as palavras, quando conjugadas com um pensamento artístico e intelectual, são uma arma poderosa para abalar a estrutura governamental que se nega a ser humana. As composições do Mano Edson da Luz reacendem em cada acto de injustiça perpetrado por um Dom Matsinhe que jura conhecer o caminho para a verdade, porém, se desvia quando lhe é dada a proposta de ter experiência de paraíso na terra. A cada batalha de um moçambicano que morre a fome e, não obstante, a caminho do hospital, Azagaia se vingará. Ele vive porque a sua música ainda é combatida pelo sistema que se mostra mais irrelevante e desprezível para se manter no poder.
A intelectualidade de Azagaia é daqui. Parte da dor e pavor de ser considerado um excesso e, por isso, descartável para o mundo dos sem importância. A sua arte desafiou a natureza rítmica do rap e a colocação das barras por cima da instrumental. As suas músicas já se configuram como matéria de consulta para estudos ou pesquisa sobre Ritmo Arte e Poesia (RAP) e, essencialmente para compreender as dinâmicas sociais e políticas em Moçambique. Quem conseguirá desacelerar igual relevância artística do Azagaia com dois parágrafos difamatórios?
“Quando acabam as palavras, bro, eu bato com xiguila, bato com timbila.” Lá dos céus cuja sua alma iluminada descansa, Azagaia irá processar o governo impostor por calúnia e difamação. Não haverá juiz que se vai predispor a julgar tal caso. Será um julgamento para reaver a dignidade de todo Moçambique. Há sinais vitais de um corpulento sistema sucumbindo. É uma acção preparatória movida por Mano Azagaia.
Serão os petizes a recusarem de ler aquele texto escrito às pressas para formatar e torná-los subservientes e cegos à realidade desoladora. O exercício será inverso, os alunos parrarão por aquela página do livro e a esmagadora classe do professorado, não abordará essa parte temática. O desespero em manter o poder conduz o sistema à sabotagem por conta própria.
Por Jorge Zamba