Estes gajos fumam maningue. Os turcos. Fumam na rua, em casa, no quarto, no lavabo, no carro… fumam quando estão tristes, quando estão alegres, quando festejam ou quando se estressam. Quando acordam, quando respiram, quando dormem ou quando despertam do sono. Estão sempre a fumar. Querem sempre fumar um cigarro, seja entre amigos ou desconhecidos, homens ou mulheres. Têm sempre um cigarro entre os lábios. Os fumantes estão em todos os cantos, são jovens, idosos, altos, baixinhos, gordos, loiros e morenos.
Ignoram a tua inocência ou concepção sobre saúde. Os gajos fumam maningue. Tive uma noite terrível. Por conta de um barulho proveniente do quarto vizinho – originado por uma mulher que não parava de gritar durante a troca de fluidos com o seu parceiro – decido despertar, abandonar um pouco o quarto para escapar dos gritos inquietantes. No corredor, tento respirar fundo para dissipar os gritos perturbadores. Ao respirar, entretanto, inalo muita fumaça porque um gajo, no quarto ao lado, não pára de fumar. Fuma como se competisse com alguém, como se tentasse ganhar um prémio por fumar diversas vezes sem parar. A fumaça invade todo o corredor. É madrugada, e não há mais nada que se possa fazer. Não posso retornar ao quarto porque a mulher não pára de gritar e pronunciar palavrões em turco. Não entendo a língua turca, mas sei que ela lança impropérios. Não são palavrões que elas lançam quando estão totalmente envolvidas nesta coisa de trocar suores, salivas e beijos?
Mas também não posso continuar no corredor, porque um homem atormenta-me com os seus cigarros. Não podia respirar fundo. Não podia dormir. Só me restava descer até ao rés-do-chão para conseguir alguns minutos de paz. Não houve paz, entretanto. Um grupo de motoqueiros posiciona-se num canto. Fuma cigarros. Uns diferentes dos outros. Inalo mais fumaça. Começo a tossir. O peito a ferver, o nariz a pesar, seco e pálido por dentro. Tais motoqueiros não falam inglês. Eu, também, não falo turco. Só sei dizer: “bom dia; olá; obrigado; tchau; irmão, amo-te; patrão.” O que dizer?, que estou cansado de fumaça e cigarros?, que estou cansado de ouvir gemidos em turco?
Abandono os motoqueiros. Caminho um pouco ao longo duma avenida que me faz pensar em Maputo e nas suas pessoas. Entro num pequeno restaurante graças ao barulho de um velho bêbado, que não parava de cantar agressivamente. Peço um café turco com açúcar, pensando nos cappuccinos servidos em Maputo. Bato o café, mas não paro de sentir a fumaça nas marinas, está encravada bem nas minhas entranhas. Respiro fundo, sinto que as vestes têm cheiros desagradáveis. Tento conformar-me com tudo isto. O proprietário do estabelecimento também começa a fumar. Fuma o primeiro e o segundo. Quando se punha a preparar o terceiro cigarro, levanto-me e dou um fora, após ter pago dez liras pela chávena de café.
Caminho de volta ao ponto de partida. Os motoqueiros continuavam a fumar. Subo até ao quarto, e alegro-me por não mais ouvirem-se os gritos da mulher que gemia como cabra. No entanto, o casal agora fumava cigarros atrás de cigarros. Atirei-me na cama e deixei-me afundar, a inalar sei lá o quê. Ignorei as minhas próprias queixas e concluí que os turcos idolatram fumo, oferecem os pulmões ao fumo, gramam de fumar. Fazem-no por ser cultural, religioso ou nem por isso. Só querem fumar. Fumar e fumar. E, com isso, matuto: como mandar fumar um gajo que não para de fumar?
Por: Albert Dalela