Close Menu
    Facebook X (Twitter) Instagram WhatsApp
    Quinta-feira, Junho 19
    Facebook X (Twitter) Instagram
    Tenacidade das PalavrasTenacidade das Palavras
    • Início
    • Livros
    • Ensaio
    • Crónica
    • Literatura
    • Romance
    • Entrevista
    • Poesia
    • Música
    • Conto
    • Biografia
    • Filmes
    Tenacidade das PalavrasTenacidade das Palavras
    Home»Crónica»Mandar fumar um Turco
    Crónica

    Mandar fumar um Turco

    Fernando ChaúqueBy Fernando Chaúque05/06/2025Sem comentários3 Mins Read
    Mandar fumar um Turco
    Share
    Facebook Twitter LinkedIn Pinterest Email

    Estes gajos fumam maningue. Os turcos. Fumam na rua, em casa, no quarto, no lavabo, no carro… fumam quando estão tristes, quando estão alegres, quando festejam ou quando se estressam. Quando acordam, quando respiram, quando dormem ou quando despertam do sono. Estão sempre a fumar. Querem sempre fumar um cigarro, seja entre amigos ou desconhecidos, homens ou mulheres. Têm sempre um cigarro entre os lábios. Os fumantes estão em todos os cantos, são jovens, idosos, altos, baixinhos, gordos, loiros e morenos. 

    Ignoram a tua inocência ou concepção  sobre saúde. Os gajos fumam maningue. Tive uma noite terrível. Por conta de um barulho  proveniente do quarto vizinho – originado por uma mulher que não parava de gritar durante a troca de fluidos com o seu parceiro – decido despertar, abandonar um pouco o quarto para escapar dos gritos inquietantes. No corredor, tento respirar fundo para dissipar os gritos perturbadores. Ao respirar, entretanto, inalo muita fumaça porque um gajo, no quarto ao lado, não pára de fumar. Fuma como se competisse com alguém, como se tentasse ganhar um prémio por fumar diversas vezes sem parar. A fumaça invade todo o corredor. É madrugada, e não há mais nada que se possa fazer. Não posso retornar ao quarto porque a mulher não pára de gritar e pronunciar palavrões em turco. Não entendo a língua turca, mas sei que ela lança impropérios. Não são palavrões que elas lançam quando estão totalmente envolvidas nesta coisa de trocar suores, salivas e beijos?

    Mas também não posso continuar no corredor, porque um homem atormenta-me com os seus cigarros. Não podia respirar fundo. Não podia dormir. Só me restava descer até ao rés-do-chão para conseguir alguns minutos de paz. Não houve paz, entretanto. Um grupo de motoqueiros posiciona-se num canto. Fuma cigarros. Uns diferentes dos outros. Inalo mais fumaça. Começo a tossir. O peito a ferver, o nariz a pesar, seco e pálido por dentro. Tais motoqueiros não falam inglês. Eu, também, não falo turco. Só sei dizer: “bom dia; olá; obrigado;  tchau; irmão, amo-te; patrão.” O que dizer?, que estou cansado de fumaça e cigarros?, que estou cansado de ouvir gemidos em turco?

    Abandono os motoqueiros. Caminho um pouco ao longo duma avenida que me faz pensar em Maputo e nas suas pessoas. Entro num pequeno restaurante graças ao barulho de um velho bêbado, que não parava de cantar agressivamente. Peço um café turco com açúcar, pensando nos cappuccinos servidos em Maputo. Bato o café, mas não paro de sentir a fumaça nas marinas, está encravada bem nas minhas entranhas. Respiro fundo, sinto que as vestes têm cheiros desagradáveis. Tento conformar-me com tudo isto. O proprietário do estabelecimento também começa a fumar. Fuma o primeiro e o segundo. Quando se punha a preparar o terceiro cigarro, levanto-me e dou um fora, após ter pago dez liras pela chávena de café.

    Caminho de volta ao ponto de partida. Os motoqueiros continuavam a fumar. Subo até ao quarto, e alegro-me por não mais ouvirem-se os gritos da mulher que gemia como cabra. No entanto, o casal agora fumava cigarros atrás de cigarros. Atirei-me na cama e deixei-me afundar, a inalar sei lá o quê. Ignorei as minhas próprias queixas e concluí que os turcos idolatram fumo, oferecem os pulmões ao fumo, gramam de fumar. Fazem-no por ser cultural, religioso ou nem por isso. Só querem fumar. Fumar e fumar. E, com isso, matuto: como mandar fumar um gajo que não para de fumar?

    Por: Albert Dalela

    Todas as novidades no seu email!

    Verifique na sua caixa de correio ou na pasta de spam para confirmar a sua subscrição.

    Albert Dalela Cronica
    Share. Facebook Twitter WhatsApp Reddit Email
    Fernando Chaúque
    • Website
    • Facebook
    • Instagram

    FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

    Artigos relacionados

    Entre o 1 e o 2, um abismo

    16/05/2025

    Colector de vírgulas

    16/05/2025

    O vagão que dialoga

    17/03/2025
    Leave A Reply Cancel Reply

    Siga-nos
    • Facebook
    • Instagram
    Leia mais
    Crónica

    Mandar fumar um Turco

    By Fernando Chaúque05/06/20250

    Estes gajos fumam maningue. Os turcos. Fumam na rua, em casa, no quarto, no lavabo,…

    Human Nature (ou em busca da natureza humana)

    04/06/2025

    À procura de Orhan Pamuk na Turquia 

    29/05/2025

    “O mundo é um mosaico de loucos” – Entrevista com Ernestino Maúte sobre “O Epitáfio do Josemar Araújo e Outros Ateus do Criador”

    27/05/2025

    Crime nas Correntes d’escrita: do proibido ao publicado

    17/05/2025

    Entre o 1 e o 2, um abismo

    16/05/2025

    Colector de vírgulas

    16/05/2025

    Mataram o nosso chefe?

    05/05/2025
    Artigos recentes
    • Mandar fumar um Turco
    • Human Nature (ou em busca da natureza humana)
    • À procura de Orhan Pamuk na Turquia 
    • “O mundo é um mosaico de loucos” – Entrevista com Ernestino Maúte sobre “O Epitáfio do Josemar Araújo e Outros Ateus do Criador”
    • 20 Livros de Poesia mais Influentes na Literatura Moçambicana
    Crónicas

    Mandar fumar um Turco

    05/06/2025

    Entre o 1 e o 2, um abismo

    16/05/2025

    Colector de vírgulas

    16/05/2025
    Livros

    20 Livros de Poesia mais Influentes na Literatura Moçambicana

    19/05/2025

    Mario Vargas Llosa: 8 livros essenciais

    02/05/2025

    Um mergulho pel’Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes

    27/02/2025
    Entrevistas

    “O mundo é um mosaico de loucos” – Entrevista com Ernestino Maúte sobre “O Epitáfio do Josemar Araújo e Outros Ateus do Criador”

    27/05/2025

    “A morte e o amor são os grandes temas da humanidade”, Entrevista a Mélio Tinga sobre “Névoa na Sala”

    11/09/2024

    Jon Fosse, Prémio Nobel de Literatura de 2023: “Prefiro viver da maneira mais entediante possível”

    16/12/2023
    Facebook X (Twitter) Instagram Pinterest WhatsApp
    © 2025 Tenacidade das Palavras.

    Type above and press Enter to search. Press Esc to cancel.