Close Menu
    Facebook X (Twitter) Instagram WhatsApp
    Domingo, Novembro 16
    Facebook X (Twitter) Instagram
    Tenacidade das PalavrasTenacidade das Palavras
    • Início
    • Livros
    • Ensaio
    • Crónica
    • Literatura
    • Romance
    • Entrevista
    • Poesia
    • Música
    • Conto
    • Biografia
    • Filmes
    • Escrita Criativa
    Tenacidade das PalavrasTenacidade das Palavras
    Home»Ensaio»Georges Perec e a Grande Transformação
    Ensaio

    Georges Perec e a Grande Transformação

    Tenacidade das PalavrasBy Tenacidade das Palavras19/03/2025Updated:19/03/2025Sem comentários4 Mins Read
    Georges Perec e a Grande Transformação
    Share
    Facebook Twitter LinkedIn Pinterest Email

    Georges Perec – escritor francês da segunda metade do século passado – escrevia com o próprio sangue, recorrendo a sua múltipla visão filosófica sobre a vida. Não conheço (ou ainda não li) outro escritor que melhor descreve o consumismo enquanto uma doença originada pelo capitalismo. A prova disso reside no romance “A vida: Modo de Usar”, um quebra-cabeças que se debruça sobre coisas ínfimas patentes num apartamento ou num super-mercado, coisas aparentemente banais para constar de um livro.

    O homem não deixava nada de fora, descrevia inclusive o vazio, entrecruzando várias histórias entre vizinhos do mesmo andar, interligando personagens complexos e jovens estúpidos que acreditam que o capitalismo lhes dará tudo. Tudo descrito ao último detalhe. Como se o protagonista da narrativa fosse a descrição. Tais descrições só as consigo comparar com as de Albert Camus em “O Primeiro Homem” – este inacabado, porém nostálgico e inquietante romance autobiográfico.

    Conheci Perec através de “A vida: Modo de Usar”, e depois fui ler “As Coisas.” Mas quando li “Um Homem que Dorme” fiquei sem palavras, mergulhado numa total confusão de ideias sobre a escrita, na tentativa de perceber como se constrói uma confusão existencial em forma de livro.

    Perec, considerado um dos mais importantes romancistas franceses do Pós-Segunda Guerra Mundial, era ligado ao movimento literário OULIPO (L’Ouvroir de Littérature Potentielle/ “Oficina de Literatura Potencial”), juntamente com Italo Calvino, Raymond Queneau e outros.

    Alguns estudiosos chamaram-no “filho” de Kafka “por ter também uma certa visão do mundo em que o labirinto e o puzzle são figuras dominantes”.

    A partir da comparação entre ambos, observo que a metamorfose de Perec reside nos seus personagens desobedientes. Os personagens de Perec desviam-se do plano traçado nas preliminares da narrativa, mudando plenamente de comportamento.

    Em “Um Homem que Dorme”, o leitor é tomado por inesperadas acções e transformações. No entanto, são as ligações dos momentos da narrativa que levam o leitor à essência da transformação, e daí surge a seguinte questão: em que medida se justifica a metamorfose?

    Em “Um Homem que Dorme”, Perec narra a vida de um estudante universitário desapontado com a sua existência e com o sistema que rege as coisas. E como consequência desse desapontamento, surge-lhe uma soturnidade profunda, levando-o a abandonar os estudos. A sua rotina passar-se-á a resumir em leitura e dormir no seu pequeno quarto, uma espécie de masmorra com uma bacia de água ao lado da cama. Ler, comer e dormir, não sair do quarto e não falar com ninguém passam a ser as acções que definem a rotina do jovem.

    De rompante, o narrador diz-nos que o jovem decidiu sair do quarto para visitar os pais, que residem numa zona rural. Chegado lá, o nosso protagonista tranca-se na velha biblioteca do pai, onde relê alguns livros que os lera na infância. Constatando que nem o resgate do passado é suficiente para dar sentido à existência, o jovem retorna ao quarto, e, na sua cama, ao lado da bacia de água, come, lê e dorme novamente.

    Obviamente, resgatando a ideia da metamorfose kafkiana, neste personagem observa-se Gregor Samsa, o homem que numa bela manhã acorda transformado num insecto repugnante, incapaz de sair do quarto para o trabalho. O personagem de Perec iguala-se ao de Kafka, que, mesmo transformado em insecto, mostra-se indignado com a sua existência e com o sistema que o escraviza para sustentar-se a si próprio e à família.

    A grande transformação, com certeza, revela-se quando o protagonista de Perec constata que, sim, a vida é um absurdo e não faz sentido, entretanto a apatia, o sedentarismo, a inércia, o silêncio, o mutismo, também não constituem solução que justifique o absurdo da existência. Na filosofia de Nietzsche, este protagonista “perequiano” é um autêntico super-homem, pois ao desmascarar a realidade – enquanto uma verdade inquestionável – o que resta é NADA. A moral que se atribui a vida é uma mera convenção social. Não existe verdade, não existe moral.

    A questão é: a vida não faz sentido, e daí?

    Perec, com o seu personagem, responde nestes termos: a vida é um verdadeiro absurdo, mas a indiferença, a soturnidade e o isolamento, não constituem solução para a perfeição da mesma. Ou por outra, a vida e o sistema são absurdos e não fazem sentido, mas, mesmo assim, o nosso dever, como seres humanos, é viver, participar das acções sociais, opinar e caminhar sempre para frente, amando o que amamos, porque não existe certeza sobre nada.

    Por Albert Dalela

    Todas as novidades no seu email!

    Verifique na sua caixa de correio ou na pasta de spam para confirmar a sua subscrição.

    Ensaio Literatura
    Share. Facebook Twitter WhatsApp Reddit Email
    Tenacidade das Palavras
    • Facebook

    Um espaço dedicado à celebração da literatura em todas as suas formas. Aqui, acreditamos no poder das palavras para atravessar o tempo, desafiar fronteiras e transformar perspectivas

    Artigos relacionados

    The Emperor of Gladness, de Ocean Vuong – Consumo, Guerra e Resistência

    17/07/2025

    Acto plausível de humilhação

    04/07/2025

    À procura de Orhan Pamuk na Turquia 

    29/05/2025
    Leave A Reply Cancel Reply

    Siga-nos
    • Facebook
    • Instagram
    Leia mais
    Crónica

    Uniformes Manchados de álcool

    By Fernando Chaúque08/10/20250

    Ao fim de cada tarde, Marracuene ganha um cenário que deveria ser de esperança: crianças…

    O meu maior filme de terror

    01/08/2025

    A Revolução Agro-Pecuária do Transporte Nacional

    23/07/2025

    The Emperor of Gladness, de Ocean Vuong – Consumo, Guerra e Resistência

    17/07/2025

    A memorável conversa escorregadia

    04/07/2025

    Acto plausível de humilhação

    04/07/2025

    Mandar fumar um Turco

    05/06/2025

    Human Nature (ou em busca da natureza humana)

    04/06/2025
    Artigos recentes
    • Uniformes Manchados de álcool
    • O meu maior filme de terror
    • A Revolução Agro-Pecuária do Transporte Nacional
    • Importância das obsessões do escritor no processo criativo
    • The Emperor of Gladness, de Ocean Vuong – Consumo, Guerra e Resistência
    Crónicas

    Uniformes Manchados de álcool

    08/10/2025

    A Revolução Agro-Pecuária do Transporte Nacional

    23/07/2025

    A memorável conversa escorregadia

    04/07/2025
    Livros

    20 Livros de Poesia mais Influentes na Literatura Moçambicana

    19/05/2025

    Mario Vargas Llosa: 8 livros essenciais

    02/05/2025

    Um mergulho pel’Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes

    27/02/2025
    Entrevistas

    “O mundo é um mosaico de loucos” – Entrevista com Ernestino Maúte sobre “O Epitáfio do Josemar Araújo e Outros Ateus do Criador”

    27/05/2025

    “A morte e o amor são os grandes temas da humanidade”, Entrevista a Mélio Tinga sobre “Névoa na Sala”

    11/09/2024

    Jon Fosse, Prémio Nobel de Literatura de 2023: “Prefiro viver da maneira mais entediante possível”

    16/12/2023
    Facebook X (Twitter) Instagram Pinterest WhatsApp
    © 2025 Tenacidade das Palavras.

    Type above and press Enter to search. Press Esc to cancel.