“De onde vêm as palavras? De onde vêm os versos? De onde eles vêm?” pág 54.
Acabei de (re)ler o mais recente livro de Jeferson Tenório, de uma escrita visceral, em ebook. Havia feito a primeira leitura no final do ano passado, nas vésperas de transição do ano, a queimar os olhos na tela do computador. E tornei a ler esta semana, e deliciei-me do inusitado que a cada deslizar das páginas ia reabrindo o horizonte.
Em quase 200 páginas acompanhamos a trajectória de Joaquim, um jovem negro, retinto, da periferia que ao chegar na universidade, através de sistema de cotas, se depara com um ambiente hostil e precisa se desdobrar para conseguir chegar no patamar que os colegas de turma.
É através de uma escrita crua que, Jeferson cria um personagem que toma consciência dessa desigualdade e nos lança um convite a um despertar de uma consciência para compreender a lógica do racismo contemporâneo. Ademais, enastra a trama com alguns relacionamentos amorosos de Joaquim com a Jéssica (negra) e Elisa (branca) como que a reforçar a temática do fundo, e reitera o convite a compreender a dimensão que a dinâmica racial afecta nos relacionamentos.
Outrossim, Joaquim é obcecado pela literatura e sonha ser escritor. Esforça-se para ler e entender os livros. Porém, a sua formação como leitor é tardia, e foi acontecendo em meio a livros comprados, alguns oferecidos, e outros furtados e em conversas profundas sobre a vida com o livreiro Sinval.
“De onde eles vêm” é um livro que nos ensina também a resiliência, a compaixão e amor. É, no meu ponto de vista, um livro fascinante, de leitura fácil, mas de uma profundidade desigual, instigante, e de não se largar até a última página.
Moçambique, 17 de Fevereiro. 2025