Estou em acto subjectivo da linguagem, as vírgulas perdem, na sua essência, o domínio, a vida e o seu sentido para vigiar a respiração ou pausa de leitura do texto, são uma mera estética. Entre os mares da noite, o azul emerge dos meus olhos e choro a eternidade, ainda que utópica. Enfim, em pequenas migalhas vou formando a grande fatia que me escasseava. Ela é o verbo que mais conjugo nos últimos anos. Se a poesia é a arte de expressar a vida com suavidade e humor do íntimo, nós, eu e ela, já há algum tempo andamos a declamar sem recurso às palavras.
Foge-me a outra personalidade mais flexível e para linguagem religiosa, mundana. Perdi a pressa. Conversamos sobre todos os temas, a política e pior, o casamento que ela a traduz em um elemento destrutivo às ambições pessoais que outrora não foram negociadas com o parceiro oficial. Nunca quis saber sobre o nome do parceiro oficial, sua profissão ou filiação partidária. Estou, verdadeiramente, em combate entre a sobrevivência e o correcto. Sou, então, uma extensão do sofrimento ou uma barreira para ofuscar a realidade. A minha existência na vida da Lara será um erro?
Passeios escondidos, beijos com olhos abertos e sexo vingativo previnem a nossa morte. Somos, talvez, os inovadores, os inventores da lâmpada do amor que, entretanto, negamos o patenteamento e direitos autorais. Para quê assumir uma inovação que aos olhos do mundo é uma pólvora para destruição do conceito tradicional de casamento? Para a minha sorte, a Lara não é católica, apesar de professar uma religião que tanto odeio pelas suas rígidas regras, seria um atenuante se fosse uma católica, o vaticano está em reforma desde o último Papa. Em unanimidade negamos quaisquer adjectivos que nos reduzam e invoquem moralismos. Somos um acidente da natureza humana, duas colorações que não podem ser expostas ao sol.
Por Jorge Zamba