Close Menu
    Facebook X (Twitter) Instagram WhatsApp
    Quarta-feira, Maio 21
    Facebook X (Twitter) Instagram
    Tenacidade das PalavrasTenacidade das Palavras
    • Início
    • Livros
    • Ensaio
    • Crónica
    • Literatura
    • Romance
    • Entrevista
    • Poesia
    • Música
    • Conto
    • Biografia
    • Filmes
    Tenacidade das PalavrasTenacidade das Palavras
    Home»Conto»A moça do cajueiro
    Conto

    A moça do cajueiro

    Fernando ChaúqueBy Fernando Chaúque06/06/20241 comentário4 Mins Read
    A moça do cajueiro. Alerto Bia. Conto. Cronica de alerto bia. O ardina de sapatos gastos. A boleia que tomara terminara antes do terminal de chapas. liguei para uma moça com quem mantinha encontros ocasionais.
    Share
    Facebook Twitter LinkedIn Pinterest Email

    A boleia que tomara terminara antes do terminal de chapas. Então, pus-me a caminhar, a terminar o resto da distância a pé, por baixo de um sol escaldante; a mochila com os manuais de professor pendurada no ombro direito; ia a contemplar o capim virente; os homens sentados por baixo de uma acácia a ingerir sura, um suco extraído da espata de coqueiro; os alunos indo apressados à escola, de testas perladas de suor.

    Para descontrair a caminhada, pus-me então a efectuar algumas chamadas, para entabular conversa com uma e outra ex-namorada de que ainda mantemos algum rastro de intimidade, sempre que as circunstâncias permitem. Isto é às vezes bom, porque o amor é um ensaio do coração. Ademais, atiça as saudades, pensei enquanto rolava a lista de contactos.

    Então, liguei para uma moça com quem mantinha encontros ocasionais. Ela não me atendeu. Liguei para uma outra com a qual já não falava há pelo menos dois anos, mas que guardava uma consideração por mim. Foi ela que me atendeu surpreendida, imaginei o esboço de sorriso de satisfação do outro lado da linha; uma linha branca de dentes que parecia lua minguante. Era uma moça bonita para os olhos de muitos, até mesmo quem não a desejasse, sorridente – eu a chamava de moça der sorriso fácil – e ela gostava e sorria mais e mais para mim. Mas por ter tal sorriso fácil, sempre ficava enciumado; achava que ela punha-se a sorrir para qualquer homem na rua, e ficava de gracinha por tudo e por nada.

    Ela atendeu-me embrulhando o meu nome no sorriso, era uma pessoa feliz, ou ao menos sabia rir para a vida.

    – Há quanto tempo! – Disse com os restos de sorriso a ecoar no fundo do meu ouvido.

    – Séculos, há séculos. – Retruquei.

    Falamos de tudo e de menos nada. Lembrei-a do dia que me rasgou a t-shirt num motel. Ela sorriu e disse:

    – Nunca ia ser comida num motel nem no carro.

    O caminho ficava para atrás, nem sentia o cansaço. De vez a outra, arrancava o perlado de suor com um lencinho que sempre que o usava lembrava-me a minha última ex-namorada, com a qual namorei três meses. Ia a falar com o telemóvel ativado no alto-falante porque ele tinha problemas de microfone, quando me deparei com a moça do cajueiro, uma moça alta, escurinha, de cintura de vespa e ancas largas, um peito moldado a mãos artísticas. Quando deus fez a mulher tinha tempo, concluí.

    Fiquei muito distraído que a moça sorridente, por algum instinto animal, presumo que tenha notado a minha distração.

    – (…) Chamou-me nome.

    – Olha, ligo-te a seguir.

    – Está bem. – Ela disse.

    Encerrei a chamada e aproximei-me da moça do cajueiro.

    – Olá, tudo bem?

    – Estou bem, obrigada.

    – Bons olhos te veem.

    Ela riu.

    – Há dias que só anjos nos saúdam. – Emendei.

    – Aí é…!

    – Duvidas?

    – Sei lá…

    – Peço teu número, quem sabe conversamos com mais vagar.

    – Não. – Replicou de chofre. – Tu estavas a falar com uma moça há pouco tempo, liga para ela.

    – Era minha prima. – Tornei a emendar.

    Atrás vinha um colega meu de carro, e parou assim que me viu e deu-me boleia.

    – Tchau. – Disse para a moça do cajueiro.

    – É uma moça boa, pah. – Constatou o meu colega.

    Sim, meneei a cabeça.

    Já passam três meses e, ainda hoje, toda a vez que passo daquele cajueiro vem-me a imagem daquela moça de olhos amendoados no fundo da cabeça. Consigo imaginá-la esperando pelo transporte, o chapa quinze. E se as árvores falassem, ou ao menos o cajueiro assim fosse, ia com ele confabular, perguntar se por alguma ventura a tal moça algum dia passou por ali outra vez. Talvez assim pudesse reencontrá-la.

    Por Alerto Bia

     

    Todas as novidades no seu email!

    Verifique na sua caixa de correio ou na pasta de spam para confirmar a sua subscrição.

    Share. Facebook Twitter WhatsApp Reddit Email
    Fernando Chaúque
    • Website
    • Facebook
    • Instagram

    FERNANDO ABSALÃO CHAÚQUE Licenciado em Ensino de Língua Inglesa pela Universidade Pedagógica de Maputo, é professor de profissão. É também escritor, autor do livro “Âncora no Ventre do Tempo” (2021), Prémio Literário Alcance Editores, edição de 2019, e co-autor das seguintes obras: “Barca Oblonga” (editora Fundza, 2022), “Mazamera Sefreu” (editora Kulera, 2023) e “Atravessar a pele” (Oitenta Noventa, 2023). Fez parte dos livros “Os olhos Deslumbrados” (FFLC, 2021); “Um natal experimental e outros contos” (Gala Gala edições, 2021).

    Artigos relacionados

    O Diálogo das coisas

    02/05/2025

    A história que parece um conto, a casa que habitava um sonho

    22/12/2024

    Nas bermas de um ensinamento  

    01/08/2024

    1 comentário

    1. Manual do Turismo on 21/07/2024 9:46 pm

      O Cajueiro… 👌💪

      Reply
    Leave A Reply Cancel Reply

    Siga-nos
    • Facebook
    • Instagram
    Leia mais
    Ensaio

    Crime nas Correntes d’escrita: do proibido ao publicado

    By Tenacidade das Palavras17/05/20250

    Li recentemente o polémico livro que prometia uma acção judicial “crime nas correntes d’escrita” do…

    Entre o 1 e o 2, um abismo

    16/05/2025

    Colector de vírgulas

    16/05/2025

    Mataram o nosso chefe?

    05/05/2025

    O Diálogo das coisas

    02/05/2025

    Coisas sobre as quais urge reflectir

    02/05/2025

    João Paulo Borges Coelho/Tahar Ben Jelloun/V.S. Naupaul (ou Existências Africanas)

    28/03/2025

    Christian Malheiros: eterno Nando da Vila Áurea

    19/03/2025
    Artigos recentes
    • 20 Livros de Poesia mais Influentes na Literatura Moçambicana
    • Crime nas Correntes d’escrita: do proibido ao publicado
    • As temáticas de Alda Espírito Santo e a nova literatura São-tomense
    • Entre o 1 e o 2, um abismo
    • Colector de vírgulas
    Crónicas

    Entre o 1 e o 2, um abismo

    16/05/2025

    Colector de vírgulas

    16/05/2025

    O vagão que dialoga

    17/03/2025
    Livros

    20 Livros de Poesia mais Influentes na Literatura Moçambicana

    19/05/2025

    Mario Vargas Llosa: 8 livros essenciais

    02/05/2025

    Um mergulho pel’Os Cus de Judas, de António Lobo Antunes

    27/02/2025
    Entrevistas

    “A morte e o amor são os grandes temas da humanidade”, Entrevista a Mélio Tinga sobre “Névoa na Sala”

    11/09/2024

    Jon Fosse, Prémio Nobel de Literatura de 2023: “Prefiro viver da maneira mais entediante possível”

    16/12/2023

    “O ‘Incêndios à Margem do Sono’ é um livro nocturno” – Entrevista a Óscar Fanheiro

    05/10/2023
    Facebook X (Twitter) Instagram Pinterest WhatsApp
    © 2025 Tenacidade das Palavras.

    Type above and press Enter to search. Press Esc to cancel.