2025 é um caderno com páginas em branco para serem borradas por memórias que nos perseguirão pelo resto da vida. O ano ainda é uma adolescente cobiçada por malandros mancebos. Enquanto o ano se estreia como uma novidade, 2024 ainda paira nas frestas dʼaurora feito um velho casmurro que se recusa a inexistir para a felicidade daqueles que o vê como um fardo “pesadíssimo”.
Vezes há que o passado precisa ser revirado, principalmente o passado recente, para resgatar os fragmentos que compuseram indeléveis sorrisos nas frestas do tempo. Dessa “reviração” como diriam os brasileiros, volto para 2024 para partilhar o meu exercício de leitura, abaixo estão os livros que me impactaram positivamente:
Obra vencedora do Prémio Literário Fundação Fernando Leite Couto 2023, do Óscar Fanheiro; o livro mescla a poesia em verso e a prosa poética duma alma que busca exorcizar a solidão deixada pela perda duma pessoa querida. Nesta obra, Fanheiro nos chama a mergulhar no seu mundo numa espécie de convite tácito para fazermos-lhe companhia e compreender as múltiplas facetas duma alma desolada.
2. Rabhia
A prostituta cega que encanta a rua do Bagamaio (ex-rua Araújo) na baixa da cidade de Maputo, seu assassinato constitui um exercício do campo para alinhar o juízo do desmiolado estagiário e sobrinho do comandante Vanimal, Bernardo Bastante Sozinho, e induzi-lo a se tornar um exímio investigador ou detective numa linguagem polite para os amantes de Literatura Policial. Rabhia é obra da pertença do Lucílio Manjate, Prémio Literário Eduardo Costley-White 2016; o trama faz-se de emoções e tensões que dariam um magnum opus na cinematografia nacional.
3. NOVAS VOZES – NOVAS ESTÓRIAS
Fruto da primeira edição do concurso de contos Carlos Morgado 2023, o livro reúne textos dos finalistas do concurso; é uma antologia que expõe a nata de escritores que emergem no nosso solo pátrio, relevando que o futuro da literatura moçambicana faz-se no presente, pois, terminada leitura de cada texto, o ponto final nos instiga a saquear os textos ocultos dos autores e trazê-los a ribalta para saciar os olhos sedentos e o âmago esfomeado de quem ama se entreter e aprender com a leitura.
4. A Viagem que não devia ter feito
Lê-se esta obra com uma película a preto e branco rodando na mente. Na minha opinião, Sir Binane (autor do livro) nos trouxe um argumento que pode ser fatiado em n (ene) roteiros, quer seja para filmes ou seriados. O livro narra as peripécias do Fernando que busca um auto-encontro em Pebane (Zambézia); e nesse processo de se encontrar consigo mesmo, acaba se encontrando com pessoas que mudam ao avesso o seu itinerário em Pebane. Entre encontros e reencontros, a viagem do Fernando se torna numa “novela mexicana”, cheia de suspense e ansiedade para o leitor, obrigando-o a não perder a viagem de vista.